terça-feira, 13 de novembro de 2007

Quem Constrói a História

Sinópse - O texto - "Quem Constrói a História" - tenta apresentar uma nova visão do fato histórico. A história da humanidade é escrita por muitas mãos e “... um ponto de vista é a visão de um ponto” podemos ver o fato histórico, objeto de estudo da História, de vários ângulos, e por que não ver do ponto de vista do homem simples, daquele que trabalha, que luta, que anda, que dorme, enfim aquele que faz suas escolhas. Por que não ver do ponto de baixo?!?


Às vezes pensamos sobre nossa origem, de onde viemos, o que nossos antepassados fizeram, porque tudo é como é ou aconteceu como aconteceu. Até onde sabemos? Talvez sobre nossos avós, bisavós ou tataravós tenha sido um “grande homem”. Mas, apenas a eles são rendidas as homenagens, não que eles não mereçam, é claro que merecem. Entretanto, talvez alguns anos à frente eu ou você ,quem está lendo, poderemos ser considerados “grandes homens” e “grandes mulheres”. Nossos retratos talvez poderão estar inseridos em empoeiradas molduras e dependurados em alguma parede da cidade, até mesmo na escola onde estudamos um dia. Quem não desejaria isto? Talvez alguns de nós seremos mártires, presidentes ou generais. Mas, o que será daqueles (ou de nós mesmos) que teoricamente não constarão nos registros da história? Talvez o único registro que teremos será aquela certidão que relata “Aos .... dias do mês ... nasceu o fulano .... na cidade ... filho de ...” Terrível, não?
Pois eu digo que não. Todos nós fazemos a história, a nossa história; que até se confunde com a história de nossa cidade, nosso estado, nosso país.
Os homens, pela sua natureza obreira, suas necessidades singulares e imediatas, veem-se obrigados a manter relações entre eles exatamente para satisfazer tais necessidades.  Travamos todos os dias estas relações. Não é assim? Compramos o pão do padeiro, a carne do açougueiro, a cerveja do cervejeiro, etc. E em contrapartida, todos eles se realizam em suas funções e grande parte de seu tempo e de sua força vital é dedicado a produzir algo. Caracterizam-se relações sociais a troca de algo pelos produtos destes “profissionais”. Damos até um “rótulo” a eles, por exemplo: O seu Joaquim da padaria; o seu Manoel açougueiro. Na verdade, eles que nasceram apenas Joaquim e Manoel e têm isto registrado em suas certidões de nascimento, agora não conseguem mais ser conhecidos como eles mesmos. Eles são o padeiro, o açougueiro, suas profissões lhes concedem “status” e modificam até o seus nomes...
Pois bem, eles estão desempenhando papéis e construindo juntos a nossa história, a história da humanidade. Os acontecimentos da nossa história relacionam-se diariamente ao nosso “fazer”: naquela manhã ensolarada, naquela tarde chuvosa, na noite gelada e dentro de nossas casas, na rua, nas igrejas, no trânsito. O homem está sempre construindo a sua história.
Não podemos desprezar os grandes acontecimentos, é claro. Aquele momento onde o presidente ou o rei decretou algo, o famoso cientista descobriu como um vírus se comporta ou aquele físico concluiu a complicada fórmula que a maioria de nós jamais entenderá, mas que explica como ocorreu o parto cósmico que nos originou. No entanto, não podemos ter – somente – esses fatos como construtores e norteadores da nossa história. Nem devemos entendê-los exatamente como são, mas, devemos sim entendê-los à luz do contexto onde materializam-se. Esses acontecimentos não se dão de forma idealizada e ideologicamente montada, até com aquela música de fundo, como em um filme. Não é assim, devemos vê-los como acontecimentos comuns que se concretizam na realidade, frutos de uma mentalidade, de um contexto: um tempo e um espaço. É preciso ter em mente que nossas ações, palavras e ideias de certa forma contribuem para que estas obras se realizem.
Assim caminha a humanidade; todos nós em nosso dia-a-dia, travando nossas relações, construindo nossas vidas, enfim, produzindo nossa existência e fazendo nossa história.

Texto publicado no Jornal Diário de Pará de Minas, em 29/11/2005.

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