segunda-feira, 23 de maio de 2011

O infortúnio de Tristão e Isolda

Debalde, os amantes lutaram contra o destino, sucumbindo tragicamente ao final. Sabiam que a guerra era perdida, e, só a morte os uniria. Contar-lhes-ei com algumas frases o triste fim de duas almas que que viveram e morreram sob a jugo da tragédia.

Tristão era filho de BrancaFlor irmã do rei Marcos, da Cornualha e de Rivalen, rei Loonnois. O rei Marcos concedera a mão da bela BrancaFlor ao destemido Rivalen. Deste amor nasceu um menino, o qual sua mãe dera-lhe o nome de Tristão, minutos antes de morrer. Tristão, porque viera em um tempo de tristezas para o casal, Rivalen partira para uma batalha onde fora morto à traição. Brancaflor definhando em seu luto, concebeu o menino Tristão.

Isolda, a loura, Irlandesa, sobrinha do terrível Morholt morto por Tristão quando tentara conquistar o reino de Marcos, era uma bela mulher. Tristão, por intriga de seus inimigos barões, prometera trazer a mulher dona do fio de cabelo dourado que o rei Marcos um dia vira flanar sobre seu leito desprendido do bico de uma pequena ave e dar-lha-ia, como esposa, ao rei para acalentar o desejo de seus avaros e infâmes barões por um herdeiro ao trono.

Eis que, ao receber Isolda de presente por ter matado o aterrador dragão com cabeça de víbora, Tristão partira em sua nau para a Cornualha com o troféu de sua conquista, porém, durante a viagem, Isolda e Tristão beberam de uma poção preparada pela mãe de Isolda que se dizia feiticeira. Assim tudo começou, ao beber daquela poção selaram seus destinos e condenaram-se um ao outro ao sofrimento do amor. Beberam-na pensando ser vinho, mas "(...) era a paixão, era a cruel alegria e a angústia sem fim, era morte.(p.42).

"Eram desgraçados quando definhavam longe um do outro, e mais desgraçados ainda quando, juntos (..)"(p.43). Isolda fora promessa de Tristão para ser desposada pelo rei, seu tio, dar-lhe filhos, herdeiros do trono e para aplacar as intrigas dos barões do rei que odiavam Tristão. Isolda era jurada ao seu tio e apenas isto já bastava para fazê-lo tremer diante do horror da confissão, confessar que Tristão e Isolda amavam-se profundamente um amor sem futuro, um amor de desgraçados. "(...) Assim como a morte, o amor também é fatal...."(p.44).

O rei Marcos recebeu Isolda, a loura; recebeu-a como esposa pelos sagrados laços do matrimônio, mas não esteve com ela, Brangiem, a serva fiel de Isolda, a quem fora confiado a garrafa com a poção enfeitiçada, ter-se-ia com o rei toda noite, deitava-se com ele nas sombras de sua alcova passando-se por Isolda que só amara Tristão e por ele sentia-se perdida.

Os dois amantes, porém, não podiam viver separados e Tristão tentara todas as artimanhas para encontrar-se secretametne com Isolda. "Nunca, senhores, ouvistes falar de mais belo ardil de amor(...) todas as noites, Tristão, avisado por Bragiem, cortava com arte pedaços de casca das árvores e folhagem. Pulava as estacas pontudas e, chegando sob o pinheiro, lançava à fonte as cascas de árvore , os quais, leves como espuma, boiavam e, deslizando com a corrente, iam até o castelo, até o aposento das damas. Isolda observava a vinda desses mensageiros, e quando Brangien conseguia afastar o rei Marcos e os intrigantes, ela ia logo ao encontro do seu amigo."(p.51) Sorrateiramente, os amantes ao virem-se lançavam-se um aos braços do outro.

Como não se pode enganar todos por muito tempo, logo os amantes são descobertos. São presos, castigados; Tristão foge e salva sua amada da morte certa, indo para a floresta onde viverá com sua Isolda por meses, até não poder mais vê-la definhar na vida incauta e sem conforto que levavam, além do peso de estar com a mulher do seu tio. Angustiado prefererirá ver Isolda com o rei, mas vivendo como uma rainha a vê-la como uma indigente fugindo das investidas dos ignóbeis barões do rei Marcos.

Descobertos pelo rei Marcos, em sua cabana na floresta, este apiedou-se do sono dos amantes;  relevou-lhes a traição deixando-lhes como prova a sua espada, deitada em meio aos corpos adormecidos dos amantes. Tristão reconheceu no gesto do rei o erro de raptar Isolda para a mata. Conversaram longamente sobre o que haviam feito e Isolda candidamente resignou-se ao desejo de Tristão de tentar devolvê-la ao rei Marcos, seu verdadeiro marido. 

O rei então aceitou a proposta de Tristão. Antes de partir, porém, Isolda ofertou seu amado com um anel de pedra preciosa. Este anel tornar-se-ia o portador de qualquer pedido que tristão lha fizesse e despedindo-se de Isolda, partiu para aventuras em terras distantes.

Tais aventuras levara o cavaleiro Tristão às terras da Bretanha onde graças ao seu espírito e astúcia de guerreiro recebera, como agradecimento de um rei com o qual combatera seus inimigos, a mão de sua irmã, Isolda, das mãos alvas. Não conseguira, entretanto, amá-la, nem na noite de núpcias, quando estiveram a sós. O amor a Isolda, a Loura, consumia-o. Sentia-se como o mais pobre dos mendigos de toda a Bretanha.

Kaherdin, o rei de Carhaix, irmão de Isolda das mãos alvas, ao saber do acontecido entre Tristão e sua irmã, interpela Tristão. Tristão conta-lhe tudo o que passara-se com ele e da poção que condenara-os ao sofrimento até a morte. Kaherdin comoveu-se com o sofrimento dos amantes e propõe ajudá-los a encontrarem-se mais uma vez.

Tristão parte para o reino de Loonois, domínio do rei Marcos. Passando-se por mendigo louco aproxima-se de sua amada, será a última vez que a encontrará. Estando no quarto de Isolda "(...) Amiga [disse Tristão],  já é preciso fugir,  porque serei em breve descoberto. É preciso fugir e jamais, sem duvida, tornar-vos-ei a ver. Minha morte está próxima: longe de vós, morrerei de meu desejo. - Amigo [retruca Isolda], fechai sobre mim vossos braço, se rompam nossos corações e nossas almas se vão! Levai-me à terra afortunada de que outrora me falaste: ao torrão de onde ninguém torna, onde menestréis insignes cantam cânticos sem fim. Levai-me!"(p.126)
  
Tristão parte para a Bretanha, entra em combate com mais inimigos de seu rei e cunhado. Embora, matasse sete dos irmãos beligerantes, fora ferido de morte por uma lança envenenada. O veneno rapidamente espalha-se pelo corpo de Tristão, a morte ronda-lhe. Já pode sentir o seu hálito gélido. Como último pedido chama por Isolda, a loura, seu único e eterno amor.

Kaherdin é o mensageiro que levará o anel até Isolda e trar-lha-á aos braços trêmulos e moribundos de Tristão. Como vingança, Isolda, das mãos alvas, porém avisa-o, antes que a nau de Kaherdin e sua amada Isolda aportem, de que a nave alçara a vela negra; Isolda não vira nela, conforme fora combinado. Sem mais encontrar um sentido para permanecer vivo, Tristão suspira pela última vez.

Isolda, a loura, no entanto, descia desesperada da nau de Kaherdin e corria ao encontro de seu amado. Ao chegar encontrou Tristão já morto. "(...)voltou-se para o Oriente e orou a Deus. Depois, descobriu um pouco o corpo, estendeu-se junto dele. Beijou-lhe a boca e a face, e abraçou-o, apertado: corpo contra corpo, boca contra boca, e morreu com ele, pela morte de seu amigo"(p.133)

Destarte, termina a estória de Tristão e Isolda, a loura; uma estória de amor de perdição e inexpugnável sofrimento.
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Referências:
Tristão e Isolda. Versão baseada nos fragmentos de Béroul, Thomas (torveiro anglonormando do século XII), Gottfried de von Strassburg, e nos trabalhos de J. Bédier. ed. Martin Claret, São Paulo: 2006.

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