sábado, 30 de janeiro de 2010

A rebeldia de Sísifo e a destruição do homem moderno


Os deuses condenaram Sísifo a empurrar incessantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair por seu próprio peso. Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança.(CAMUS, Albert. O mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 135).

Mas, o que aconteceria se Sísifo se rebelasse contra sua tarefa eterna? talvez, o máximo que poderia ocorrer-lhe seria sua morte; ele que já estivera no reino dos mortos e enganara sua algoz, morreria novamente: a morte que é algo natural e inerente à sua natureza humana.

Por outro lado, outro castigo pior poderia ser-lhe imposto; a maldição da realização do seu sonho: o fim do seu sofrimento, da sua eterna e inútil labuta. O que restaria-lhe além da sua infame tarefa? o cataclismo; o fastio da existência dilaceraria-lhe o espirito - a morte certa... o cessar de todas as atividades, todos os seus sofrimentos. O tédio destrutivo... ou, aguardaria, impaciente outra tarefa. Outro castigo mais pesado, mais doloroso renovaria-lhe, ao findar de cada dia, a esperança do reinício. Essa seria a única esperança que abrandaria o sofrimento de seu espírito. traria-lhe a alegria e a vontade de viver.

Hoje, Sísifo vive em cada um de nós, desde o despontar do primeiro raio do sol a lançar-se sobre a terra aplainando a escuridão da madrugada e renovando nossas esperanças no perpetuar de nossa efêmera existência, até a hora do "cachorro-lobo". O homem moderno precisa desesperadamente que Sísifo renasça em seu ser a cada dia de sua existência: o que seria do pobre homem se seus sonhos se realizassem?

O homem em "estado puro", obra do criador, não precisa de nenhum mito, sua existência basta-lhe. O seu desejo - se é que ele deseja, tal qual nós o conhecemos -, é uma falta, uma inquietude. Inquieta-se quando está com fome, quando tem de devolver à natureza aquilo que não lhe faz parte, por não ser-lhe mais necessário, ou, ainda, quando é privado da mulher. Supridas suas inquietudes, o homem em "estado puro", acomoda-se, seu coração e espirito aquietam-se. Não podemos dizer que seja um prazer - da forma como o conhecemos -, mas, digamos que as contingencias de sua natureza, supridas, traga-lhe uma paz tal, que jamais o homem moderno, consciente de sua existência, ideologicamente alienado, cheio de sonhos, de metas, imerso em toda essa maravilhosa parafernália moderna, poderá sentir.

Pense nisto...

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