quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Guerra sob o olhar de Duras

São muito numerosos, os mortos são realmente muito numerosos. Sete milhões de judeus foram exterminados, transportados em vagões de gado e depois asfixiados nas câmaras de gás construídas com essa finalidade, e então queimados nos fornos crematórios construídos para isso. Ainda não se fala dos judeus em Paris. Os recém-nascidos foram entregues ao corpo de mulheres encarregadas do estrangulamento de crianças judias, peritas na arte de matar com uma sobre as carótidas. Com um sorriso, é indolor, dizem elas. Esta nova face da morte, organizada, racionalizada, descoberta na Alemanha, descoberta antes de indignar. Estamos perplexos. Como é possível, ainda, ser alemão? Procuram-se equivalências em outros lugares, outras eras. Não há. Muitos permanecerão ofuscados, incuráveis. Uma das maiores nações civilizadas do mundo, capital da música em todos os tempos, acaba de assassinar onze milhões de seres humanos à maneira metódica, perfeita, de uma indústria estatal.

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Referências:
DURAS, Marguerite. A dor (original La douleur). São Paulo: Nova Fronteira, 1985. (p. 49-50)

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