sábado, 11 de abril de 2009

A vida de um Homem.


Por Joandre Oliveira Melo, 26 de fevereiro 2009.

A vida de um homem é algo estranho; assemelha-se a um rio que escoa desesperadamente para algum lugar. Por mais que ele serpenteie e encontre barreiras, a correnteza inexpugnável da vida leva-o, impiedosamente, para o vale da morte.

Mal comparando, novamente; a vida de um homem é como um maravilhoso dia de verão. Um dia daqueles que não precisamos nos levantar para ir ao trabalho e podemos desfrutá-lo em todo seu comprimento.

Alguns levantam-se mais cedo: antes do romper da aurora. Outros, mais tarde. O homem, de quem vos falo, acorda ao primeiro raio de sol que, riscando num único salto todo o comprimento do seu quarto, em direção à sua cama, beija-lhe a face inerte agitando enzimas cerebrais que desencadeiam um processo, obrigando a abrir seus olhos. Ao abri-los sua retina é bombardeada por imagens de um mundo maravilhoso e ao mesmo tempo misterioso. Logo, desperta-lhe outros sentidos; a algazarra que vem de fora, o murmurar da brisa matinal prensada pelas listas da janela. Um doce aroma, uma mistura de vegetais, terra e água elevam-se pelo ar.

Um salto!... E o homem que parece pequeno, se torna grande. Dirige-se à janela abrindo-a com um suave movimento, enquanto é abraçado pelo fulgor daquele dia divino. Parte, então, para o campo. Porém, um senhor perverso marca o passo; de salto em salto os ponteiros do relógio apressa-lhe o tempo.

O homem observa os sonolentos e coloridos seres da manhã; tudo é cor, é brincadeira: é infância.

E o homem segue flanando pelo campo; tudo é belo, é fragrância, é frescor: é juventude.
Subitamente tudo muda – os dias de verão teimam em nos pregar peças, são movimento puro – o calor abafa, grossas e negras nuvens despontam por detrás da montanha revestida por um verde viçoso. E a nuvem velozmente, como um mensageiro alado, intercepta rapidamente os raios do sol. Todavia, nem todos; alguns bravamente trespassam a nuvem, como a espada de um guerreiro penetrando na armadura do inimigo, e tocam a terra como que querendo ancorar o astro rei. Mas, mesmo com audaciosa coragem desses desgarrados risco luminosos, a claridade do dia sucumbe à carapaça negra do cúmulo-nimbo. Cai a chuva. Começa com uma peneirada de gotas, ainda quente, e logo transforma-se em uma torrente vertical que brota dos céus despencando em riste à terra. E o homem luta, esconde-se; é trabalho, sofrimento, cansaço: é maturidade.

Algumas vezes, o atormentado homem, vislumbra alguns intrépidos guerreiros solares que, por alguns segundos, rasgam o véu negro; embora, seja logo vencidos pela tempestade. E a tormenta sopra, geme, murmura e açoita com inclemente indiferença as criaturas da face da terra.

Depois de algum tempo, após uma coleção de saltos dos ponteiros do senhor do tempo, as nuvens se vão. Mas, já se faz tarde, fica o estrago: a enchente, a barranca que desabou, as árvores quebradas, raízes expostas, vencidas pelo vento. Não há mais sons, apenas lamentos. O sol já se vai aproximando-se do poente, Os vales inundam-se com as sombras projetadas pelas montanhas e a inclinação do sol: é a velhice.

Os saltos do relógio, não param... O sol se deita, mais e mais. É hora de seus mensageiros recolherem-se junto ao seu senhor, somente os mais tenazes, agora ainda rondam as paisagens sombrias. Logo, o último deles desfalece com a escuridão da noite. Já não se vêem os vales. Das montanhas, apenas as silhuetas. Aqueles que madrugaram já se fartaram do dia, agora vão se deitar.

O homem que estava acompanhado, fica só; até que, vencido por pelo cansaço do dia, adormece, e cobre-lhe a escuridão. Adormece para sempre: é a morte.

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