quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Devaneios sobre o nada

Advertência: O pequeno texto abaixo carece de fundamentação teórica e de uma reflexão mais apurada. Inferir sobre ele poderá levar-nos a equívocos ou a conceitos inexatos; não devendo ir além de devaneios de um ignóbil professor de história.
Por Joandre Oliveira Melo

Desde a infância, ou pelo menos até o ponto de onde posso me lembrar, o Cosmo me fascinara.  Aquelas noites na "roça" dos meus avós, às margens de um riachinho ou ao lado do fogão à lenha ouvindo sobre as teorias do além, dos outros mundos, debatidas pelos meus parentes, vislumbrando, através da janela aberta, uma infinidade de pontinhos cintilantes na imensidão escura, como se fossem olhos de monstros ao fundo do abismo que o sol teimosamente fazia desaparecer como nos protegendo durante as horas do dia, aprisionando-os com seu manto azul, só deixando-os livres novamente ao se pôr sob a linha do horizonte mantendo o mistério da noite.

Essa mistura mágica e assustadora do Cosmo caminhou lado a lado e alimentou minha imaginação até o ensino médio, dia que comecei a ler o "Colapso do Universo" de Isaac Assimov. A partir dai, toda a mágica e todo o medo daqueles pontinhos cintilantes foram abatidos por explicações lógicas e bem fundamentadas na ciência ou no que se havia descoberto àquela época.

Já maduro e afastado daqueles pensamentos infantis, tive contato, no início da década de noventa com revistas e livros científicos que aguçavam a minha percepção do Universo. No entanto, confesso-lhe, nunca consegui separar-me totalmente daquela visão gostosa da minha infância e substituí-la integralmente pelas intricadas fórmulas matemáticas demonstradas nos manuais da física. Sempre permaneceu algo de metafísico no conhecimento das abordagens do Cosmo. Tal como acontecera aos grandes filósofos prés-socráticos (Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras, Empédocles, Democrito, Leucipo e Anaxágoras).

Entretanto, não sem resistência, a dura realidade foi aos poucos arrefecendo meu ímpeto e tirando-me o tempo e a emoção para ler sobre Cosmologia, enterrando-me em uma dura camada de deveres e atribulações com a manutenção da existência, impossibilitando que continuasse meus estudos além do ensino médio. Só mais tarde, quando consegui alguma estabilidade pude concluir a graduação, mas esta foi  em História um ramo das ciências bem distante da cultuada Cosmologia.

Todavia, tento, com grande dificuldade, acompanhar toda notícia acerca da atual Cosmologia. Creio possuir algo já fundamentado pelas leituras do passado e as interpretações atuais, não obstante pairem enormes dúvidas. Este modelo abstrato, talvez, equivocado, firmou-se em minha mente.

Embora alimente um modelo lacônico, dentre as dúvidas que me perturbam está a ideia de espaço. Muitas abordagens acerca deste tema levam-me a pensar: será o espaço algo preenchido por matéria ou o nada ? A interpretação do nada aqui difere da interpretação metafísco-filosófica. Adotarei a dicotomia do preenchido e do vazio (nada), alimento algumas situações que considero ser possíveis, circunscritos, é claro, às minhas possibilidades intelectuais.

Consciente de minha frágil abordagem, ainda assim, gostaria de expor-lhes algo sobre como interpreto o nada e o espaço e, ainda, como dialeticamente estas ideias contribuem para meu entendimento da matéria escura.

Primeiramente, gostaria de assumir que minha argumentação pode ser equivocada. A compreensão plena do nada considero-a como um conhecimento transcendental, portanto, inacessível ao conhecimento empírico. Eis, contudo, que poderemos postular o nada como algo paradoxal à matéria, ou seja, o nada como ausência de matéria de qualquer natureza, melhor ainda, o vazio deixado pela matéria. O local onde a matéria aloja-se, até mesmo o espaço deixado pela inexistência do vácuo. O nada deixará de existir na presença da matéria. Entretanto, para a existência da matéria, antes o nada deve existir. A existência da matéria impossibilitaria a existência temporária do nada, sem, contudo, invalidá-la.

Penso que desta forma poderia compreender a afirmação de que o universo não seria infinito, porém ilimitado. Ora, se nos pusséssemos a busca dos limites do universo jamais o encontraríamos, devido à impossibilidade de haver um fronteira entre o universo e o nada. Ou, ainda, jamais poderíamos conceber o contexto exterior ao cosmo real, além dos "limites" do universo, pois ele não existe, é o nada. Talvez, jamais possamos conceber ou até mesmo perceber o conteúdo além dos limites do Universo. Este contexto realmente não existe, ou se existir não pode ser percebido pela nossa capacidade intelectual. Ao nada compete a missão de ceder seu lugar ao universo em expansão. Dentro deste raciocínio, o Universo total é o nada onde "tudo" existe.

Penso, no entanto, que invalidar a possibilidade genitora do nada não parece interessante. Afinal, uma perturbação da natureza do nada, como explicou o nobre físico Marcelo Gleiser em excelente artigo: "A importância de não saber", publicado em quatro de julho de 2010, na Folha de S. Paulo, pode gerar algo que se torne "maciço" bastante para emitir um sinal de sua existência.

Com efeito, como não podemos compreender o nada, hipoteticamente não o detectaríamos; a não ser pela imaginação de que a matéria "escoa" ao seu encontro como se o quisesse preencher, assim, o nada jamais poderia provocar a repulsão, ao contrário, provocaria uma espécie de "decaimento da matéria". Uso o termo decaimento por não encontrar outra palavra. O termo decaimento no sentido de espraiar, uma distensão da matéria sobre algo que não existe. Paradoxalmente o nada não interferiria na distensão do Universo, pois o nada é tudo que não existe. Porém, o universo parece distender-se deitando-se sobre o nada.

Minhas considerações sobre a matéria escura vem do que descrevi acima. Talvez, seja, o espaço se desdobrando. Há pouco mais de treze bilhões de anos o espaço estaria dobrado sobre ele mesmo, incrivelmente comprimido pela extraordinária força gravitacional do "Ovo Cósmico", o aglomerado de matéria compacta que originaria o Big-Bang.

O espaço, ao contrário do nada,  pareceria um plano altamente rarefeito, onde reverberam ondas de energia. Rarefeito, até certo ponto, pois, na verdade, podria haver mais ondas de energia vibrando freneticamente ao ponto de, talvez, transformar-se em um berçário cósmico. Não devemos obliterar que todo o tipo de onda e partícula exótica podem infestar esse suposto "tecido" que seria o espaço.

Diante do exposto acima, às vezes, tendo a pensar sobre a aceleração da matéria. Sabe-se que o estado energético das moléculas provocam uma infinidade de perturbações que podem ser captadas. Acelerando-se partículas e chocando-as entre si ou em anteparos pode-se desintegrá-las em partículas menores e assim detectar as mais elementares partículas do universo. É isto que acreditamos.
No entanto, proporia algo diferente -- reforço novamente a minha ignorância perante os conhecimentos cosmológicos já adquiridos --, como, talvez, ao contrário de acelerarmos, usássemos os potentes magnetos para aprisionar a matéria e, roubar-lhe toda a energia cinética de que fossemos capazes. Seria interessante verificarmos o que aconteceria. Poderíamos descobrir, talvez, outros estados da matéria, bisbilhotando o seu repouso. Talvez, a matéria "evaporaria" em forma de energia, ou, algo ainda mais bizarro. Ainda não li nada a respeito de tal experimento.

Por isso, peço considerar tudo o que disse acima apenas como uma especulação, ideias incertas de uma mente ignóbil de um simples professor de história.

Enfim, destarte, todas as teorias sobre o Cosmo, novas visões surgem a cada época, alimentadas pelas brilhantes teorias dos nossos antepassados, homens de tão grande valor que nos enchem de orgulho de termos sido criados tal como eles.
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