É extremamente interessante o que
podemos encontrar quando estudamos documentação antiga. Através destes
documentos amarelados, apagados, recortes de jornais, podemos reviver o
passado. Podemos revivê-lo e resignificá-lo; esse é o ambiente de trabalho do
historiador.
O
historiador é aquele que constrói uma versão dos fatos. Ele constrói ou, às
vezes, destrói para construir novamente. A cada leitura feita por um
historiador, uma nova luz, uma nova interpretação pode nascer, em alguns casos destruindo
uma anterior ou, apenas somando-se, a ela.
Até mesmo os
próprios documentos parecem brincar com nossa determinação de procurar relatar
o real. É o que aconteceu quando estávamos lendo o arrolamento dos bens da
Senhora Ana Maria de Jesus, datado de 22/04/1954, do acervo documental
“Mesopotâmia Mineira”. Um arrolamento é uma espécie de levantamento ou listagem
dos bens deixados por uma pessoa falecida e é solicitado pelos seus herdeiros à
Justiça para que se proceda ao inventário dos bens.
Pois bem, no
meio desse tipo de processo é comum encontrarmos páginas de jornais ou
informativos da época, que estão ali para compor o mesmo com alguma informação
relevante que fora levada a público.
Especificamente
no processo do arrolamento da Senhora Ana Maria de Jesus, deparamo-nos com uma
situação que não teria nenhum significado para uma pessoa que não estivesse
atenta às armadilhas do ofício de historiador. Durante a leitura, encontramos
umas páginas do “Notícias do Município”, semanário que circulava em Pará de
Minas nos anos 50. A
edição era a de número 7, ano I, de 05 de junho de 1955. Dentre as notícias,
uma nos chamou a atenção: logo no início havia um “Convite ao Povo”. Convidava
o povo paraminense para “(..) as solenidades de instalação do GRUPO ESCOLAR << Prof. Pereira da Costa >> marcada para o próximo dia 11, [junho
de 1955] às 14 horas, no prédio do referido estabelecimento”. A referida escola
situa-se no bairro Nossa Senhora das Graças, à rua Antônio Praxedes, 390.
Mas, o interessante
é que o exemplar número 8, que também encontra-se anexado ao processo aludido,
datado de 11 de junho de 1955, ratifica o convite impresso no número anterior.
A ratificação refere-se ao horário das solenidades: estas não aconteceriam às 14 horas, como haviam
publicado anteriormente, mas às 16 horas, do dia 11 de junho de 1955. Pode-se
ler no convite a participação de autoridades ao evento: O Prefeito, Sr. José
Vicente Marinho; o Senhor Doutor Luiz de Melo Viana Sobrinho, chefe do 2º
departamento de Ensino Primário da Secretaria da Educação, e o Deputado Wilson
de Melo Guimarães.
O problema é o
seguinte: suponhamos que a página da edição número 8, ratificando o horário,
estivesse perdida, e nunca mais fosse encontrada; teríamos, hoje, uma informação
equivocada desse acontecimento. Contudo, as interpretações de documentos devem
seguir padrões meticulosos para que a margem de erros seja totalmente
desprezível, ou que até inexista, para que haja um alinhamento do que está
escrito no documento aos fatos.
Por outro
lado, imaginemos, caso a página com a ratificação fosse encontrada por outro historiador,
ele ou ela poderia pôr em dúvida a nossa interpretação. Assim como aconteceu
com este caso, muito simples, contudo, essa divergência poderia ter ocorrido
com um outro acontecimento de proporções muito maiores e que interferiria
permanentemente em nossas vidas.
Portanto, não
existem interpretações que não possam ser questionadas. Se até a data deste
acontecimento pôde ser questionada, isso abre um leque de possibilidades para que
os historiadores critiquem as interpretações atuais e apresentem outras novas.
___________________Referências
Artigo publicado no Jornal Diário em 23 de abril de 2007. Escrito por: Joandre Oliveira Melo, integrante do grupo Mesopotâmia Mineira:
Projeto
Mesopotâmia: Geraldo F. Fonte Boa
(Professor da FAPAM e Coord. do Projeto. E-mail: phonteboa@gmail.com.br), Flávio M. S. (Coord.
Curso de História FAPAM. HP: www.nwm.com.br/fms), Ana Maria Campos (MUSPAM); Professores formados em
História na FAPAM: Alaércio Delfino, Alfredo Couto, Damary de Carvalho, Geraldo
Rodrigues, Hoffman Elias e Joandre Oliveira Melo. Aluna do curso de
História/Fapam: Isabel Moura. Site FAPAM: www.fapam.edu.br
Belo o texto.Amei
ResponderExcluirpassei por aqui para te desejar:
Boas Festas!
Que o encanto prevaleça ante as perdas, e os ganhos ocupem espaços generosos na tua vida.
Que o Ano Novo te traga muita luz e que todas as quimeras se moldem do tamanho de teus sonhos.
Felicidades sempre.Bjs Eloah
Obrigado a todos pelos comentários.
ResponderExcluirFeliz 2013 para todos.
Abraços.
Olá Joandre! Tudo bom?
ResponderExcluirVim agradecer sua visita!
Confesso que nos meus tempos de colégio abominava história!kkkk!
Mas com o passar dos anos aprendi o valor de sabermos o passado. É interessante aprender sobre cultura ,costumes antigos e ver como tudo vai se transformando com o tempo...as vezes pra melhor, outras vezes pra pior.
bjs e boa semana! Curti teu espaço e estou ficando por aqui.
Olá Joandre!!!
ResponderExcluirVim te agradecer por suas visitas!
E dizer que seu blog é bem interessante...está coroado por ótimas definições e informações!
Boa noite!!!
Bjos