quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O problema das datas (artigo)

É extremamente interessante o que podemos encontrar quando estudamos documentação antiga. Através destes documentos amarelados, apagados, recortes de jornais, podemos reviver o passado. Podemos revivê-lo e resignificá-lo; esse é o ambiente de trabalho do historiador.
O historiador é aquele que constrói uma versão dos fatos. Ele constrói ou, às vezes, destrói para construir novamente. A cada leitura feita por um historiador, uma nova luz, uma nova interpretação pode nascer, em alguns casos destruindo uma anterior ou, apenas somando-se, a ela.
Até mesmo os próprios documentos parecem brincar com nossa determinação de procurar relatar o real. É o que aconteceu quando estávamos lendo o arrolamento dos bens da Senhora Ana Maria de Jesus, datado de 22/04/1954, do acervo documental “Mesopotâmia Mineira”. Um arrolamento é uma espécie de levantamento ou listagem dos bens deixados por uma pessoa falecida e é solicitado pelos seus herdeiros à Justiça para que se proceda ao inventário dos bens.
Pois bem, no meio desse tipo de processo é comum encontrarmos páginas de jornais ou informativos da época, que estão ali para compor o mesmo com alguma informação relevante que fora levada a público.
Especificamente no processo do arrolamento da Senhora Ana Maria de Jesus, deparamo-nos com uma situação que não teria nenhum significado para uma pessoa que não estivesse atenta às armadilhas do ofício de historiador. Durante a leitura, encontramos umas páginas do “Notícias do Município”, semanário que circulava em Pará de Minas nos anos 50. A edição era a de número 7, ano I, de 05 de junho de 1955. Dentre as notícias, uma nos chamou a atenção: logo no início havia um “Convite ao Povo”. Convidava o povo paraminense para “(..) as solenidades de instalação do GRUPO ESCOLAR << Prof. Pereira da Costa >> marcada para o próximo dia 11, [junho de 1955] às 14 horas, no prédio do referido estabelecimento”. A referida escola situa-se no bairro Nossa Senhora das Graças, à rua Antônio Praxedes, 390.
Mas, o interessante é que o exemplar número 8, que também encontra-se anexado ao processo aludido, datado de 11 de junho de 1955, ratifica o convite impresso no número anterior. A ratificação refere-se ao horário das solenidades: estas  não aconteceriam às 14 horas, como haviam publicado anteriormente, mas às 16 horas, do dia 11 de junho de 1955. Pode-se ler no convite a participação de autoridades ao evento: O Prefeito, Sr. José Vicente Marinho; o Senhor Doutor Luiz de Melo Viana Sobrinho, chefe do 2º departamento de Ensino Primário da Secretaria da Educação, e o Deputado Wilson de Melo Guimarães.
O problema é o seguinte: suponhamos que a página da edição número 8, ratificando o horário, estivesse perdida, e nunca mais fosse encontrada; teríamos, hoje, uma informação equivocada desse acontecimento. Contudo, as interpretações de documentos devem seguir padrões meticulosos para que a margem de erros seja totalmente desprezível, ou que até inexista, para que haja um alinhamento do que está escrito no documento aos fatos.
Por outro lado, imaginemos, caso a página com a ratificação fosse encontrada por outro historiador, ele ou ela poderia pôr em dúvida a nossa interpretação. Assim como aconteceu com este caso, muito simples, contudo, essa divergência poderia ter ocorrido com um outro acontecimento de proporções muito maiores e que interferiria permanentemente em nossas vidas.
Portanto, não existem interpretações que não possam ser questionadas. Se até a data deste acontecimento pôde ser questionada, isso abre um leque de possibilidades para que os historiadores critiquem as interpretações atuais e apresentem outras novas.
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Referências
Artigo publicado no Jornal Diário em 23 de abril de 2007. Escrito por: Joandre Oliveira Melo, integrante do grupo Mesopotâmia Mineira:


Projeto Mesopotâmia: Geraldo F. Fonte Boa (Professor da FAPAM e Coord. do Projeto. E-mail: phonteboa@gmail.com.br), Flávio M. S. (Coord. Curso de História FAPAM. HP: www.nwm.com.br/fms), Ana Maria Campos (MUSPAM); Professores formados em História na FAPAM: Alaércio Delfino, Alfredo Couto, Damary de Carvalho, Geraldo Rodrigues, Hoffman Elias e Joandre Oliveira Melo. Aluna do curso de História/Fapam: Isabel Moura. Site FAPAM: www.fapam.edu.br

4 comentários:

  1. Belo o texto.Amei
    passei por aqui para te desejar:
    Boas Festas!
    Que o encanto prevaleça ante as perdas, e os ganhos ocupem espaços generosos na tua vida.
    Que o Ano Novo te traga muita luz e que todas as quimeras se moldem do tamanho de teus sonhos.
    Felicidades sempre.Bjs Eloah

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  2. Obrigado a todos pelos comentários.

    Feliz 2013 para todos.

    Abraços.

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  3. Olá Joandre! Tudo bom?

    Vim agradecer sua visita!

    Confesso que nos meus tempos de colégio abominava história!kkkk!
    Mas com o passar dos anos aprendi o valor de sabermos o passado. É interessante aprender sobre cultura ,costumes antigos e ver como tudo vai se transformando com o tempo...as vezes pra melhor, outras vezes pra pior.

    bjs e boa semana! Curti teu espaço e estou ficando por aqui.

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  4. Olá Joandre!!!

    Vim te agradecer por suas visitas!

    E dizer que seu blog é bem interessante...está coroado por ótimas definições e informações!

    Boa noite!!!

    Bjos

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Agradeço pelo seu comentário.