sábado, 20 de novembro de 2010

Vidas Contadas e histórias vividas...

"Os homens são tão necessariamente loucos", sofismava Blaise Pascal, "que não ser louco seria outra forma de loucura". Não há saída para a loucura senão outra loucura, insiste Ernest Becker, comentando o veredicto de Pascal, e explica: os homens estão "fora da natureza e desesperadamente nela". Tanto em termos individuais como coletivos, todos nos elevamos sobre a finitude de nossa vida corporal, e no entanto sabemos -- não conseguimos não saber, embora façamos tudo (e mais) para esquecer -- que o vôo da vida, de maneira inevitável, vai cair no solo. E não existe uma boa solução para o dilema, pois é exatamente se elevar sobre a natureza o que abre nossa finitude ao escrutínio e a torna visível, inesquecível e dolorosa. Fazemos o possível para transformar nossos limites naturais no mais bem guardado dos segredos; mas, se tivéssemos sucesso nesse esforço, teríamos pouca razão para nos esticarmos "além" e "acima" dos limites que desejamos transcender. É a própria impossibilidade de esquecer nossa condição natural que nos lança e permite que pairemos sobre ela. Como não nos é permitido esquecer nossa natureza, podemos (e precisamos) continuar desafiando-a.
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Referências:
BAUMAN, Zygmunt. Vidas Contadas e histórias vividas uma proposta inicial. In.: A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. trad. José Gradel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008 p. 7.
(*) Imagem do Sociólogo Zygmunt Bauman, disponível em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c8/Zygmunt_Bauman_by_Kubik.JPG, 19/11/2010 23:33 hs.

5 comentários:

  1. Gostei.
    "Não há saída para a loucura senão a loucura."
    No mundo de hoje, se, pelo menos, não me parecer louco, não sou.

    Terezinha

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  2. em certo sentido, a solução para uma obsessão, ou mesmo para "a" obsessão, é outra obsessão, o que explicaria a loucura como superação da loucura

    mas o problema real é a perplexidade da consciência sobre a própria consciência ou, mais exactamente, sobre a consciência de si própria

    na sua obra, e em especial no seu último livro, António Damásio faz perguntas certeiras e visita muitos lugares iluminados em torno e por dentro da verdadeira pergunta do Homem

    ;_)))

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  3. Caros leitores,
    Concordo com vocês. A perplexidade da consciência sobre si mesma, leva-nos à angustiante pergunta: O que é o Homem?...

    A tarefa é hercúlea responder algo tão complexo.

    No entanto, notem que se se deixar a evolução e os processo evolutivos da mente e consequentemente da consciência, teremos solucionado a questão. Ou seja, a eterna questão "O que é o Homem" procede daquilo que ele não é... A medida que medita, mais complexo o caminho que a consciência percorre. A desilusão logo bate à porta... Aprofunda-se cada vez mais na degenerecência do seu ser...

    Talvez, a razão ou consciência seja só uma deformação da natureza humana, um breve momento de loucura que culminará na dissolução dela própria, por não ser natural do Homem...

    Obrigado a todos pelos comentários.
    Abraços.

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  4. é precisamente para tarefas hercúleas que a mente humana está predestinada!

    angustiantes podem ser as respostas em falta, as perguntas são sempre desafiantes!!

    o ser reedifica-se e revivifica-se e pela meditação acede-se à ilusão, a novos sonhos e à esperança!!!

    e a consciência incorpora a natureza do Homem, que por sua vez a "culturaliza", procurando compreendê-la, num processo de evolução e superação, a caminho do futuro ;_)))

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  5. eh eh ...

    http://fc01.deviantart.com/fs13/f/2007/077/2/e/Animator_vs__Animation_by_alanbecker.swf

    ;_)))

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