terça-feira, 23 de março de 2010

Devaneios I

Hoje, enquanto observava com tristeza o movimento incansável das águas poluídas de um córrego próximo onde trabalho, fui surpreendido pelo voo frenético de uma borboleta adornada por cores primaveris.

Não pude tirar os olhos daquele singelo ser, enquanto comparava suas cores vibrantes com a tonalidade parda das águas poluídas do pequeno córrego, sobre o qual a jovial borboleta pairava silenciosamente movendo suas alígeras asas; seus rasantes, serpenteios e rodopios alegravam aquele cenário dantesco emprestando-lhe além da beleza de sua indumentária, a sensação de um aroma suave.

Imaginei que, talvez, encerrado naquele pequeno ser alado estivesse a alma de Beatriz, cantada por Dante, em todo seu esplendor e beleza capaz de dissolver o coração do mais ignóbil dos homens...

Súbito a borboleta desapareceu na glauca paisagem à margem do córrego.

Pensei, para onde teria ido Beatriz?... Teria ido ter-se com seu amante?...

Só o que me restou foi o burburinho da corredeira que estava forte com a última chuva de março fechando o verão. Vislumbrei novamente aquela paisagem escura, triste; nem a minha borboleta, nem a minha Beatriz, apenas a imagem da indústria dos novos tempos. O cheiro também seguia aquela paisagem...

Tudo ficou frio, triste, normal e o trabalho a me chamar para dentro da gaiola...

Joandre Oliveira Melo

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(*) Imagem disponível na Wikipédia no endereço abaixo, em: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/Dante_Gabriel_Rossetti_-_Beata_Beatrix%2C_1864-1870.jpg. 23/03/2010, 23:55hs

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