Já chegou o outono, preparando-nos para o carrancudo inverno. Alguns dizem que, no outono, Deméter chora por sua Perséfone que, em breve, juntar-se-á ao horrendo do submundo, os domínios de Hades.
Já sentimos os raios solares que a cada dia inclinam-se para o norte esmaecendo seu calor, dourando sua luz com a poeira levantada pelo vento.
Toda a movimentação dos insetos, algumas semanas atrás, ainda frenética, começa a cessar. É o fim de mais um ciclo da natureza: O derradeiro momento do refestelar da vida. A hibernação faz-se preeminente. É preciso uma breve interrupção para que a vida novamente irrompa de seus cadáveres.
Em algumas semanas, quando o outono estiver a toda, retornarei ao córrego no fundo de onde trabalho. Verei a água minguar; a outrora corredeira cederá lugar a um pequeno fio d’água imundo, fétido, inóspito. E a alegre borboleta que serpenteava e alegrava-me com seus voos acrobáticos sobre aquele mar de lama, em um dia de verão, não estará mais lá... talvez tenha sido devorada por algum pássaro já faminto, ou, quem sabe, não esteja morta. Liberada, a alma de Beatriz subirá ao etéreo. Será possível ela se reencarnar em um outro belo ser na próxima primavera?... Não sei, não posso concebê-la diferente daquela vibrante borboleta; mas, se retornar em outro corpo, é provável que escolha uma borboleta mais bela ainda. Ou na negra gralha. Ou na fêmea do bem-te-vi, ou do João de Barro.
Talvez ainda reencarne em uma rosa, mas rosas e flores não existem às margens daquele córrego que eu frequento. A não ser as flores que certamente um jovem ipê nos legará...
Destarte, passou-se mais um ciclo da criação. Resta-nos apenas aguardar a chegada de novo ciclo, do renovar contínuo...
Joandre Oliveira Melo
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