segunda-feira, 9 de julho de 2012

Carta ao Prof. Pondé


Caro prof. Pondé,



Sou leitor assíduo de suas crônicas e ensaios na Folha de S.Paulo. Confesso-lhe; como o senhor não espero nada da vida, talvez um pouco de oxigênio para sobreviver aos dias que se sobrepõem antes de me entregar à mãe terra e aos seus ímpios e famintos carniceiros. Acredito que, como diz Baudelaire, muito lúcido, em um de seus poemas: aquele a banquetar-se com este combalido coração saberá que, talvez, nunca tenha existido outro, no mundo, que sofrera tanto.

Enquanto isto não acontece, por minha falta de coragem em protagonizar adiantadamente o último ato desta tragédia, fico a pensar se o homem não se degenerou ao cultivar o conhecimento, a reflexão e a memória! Ora, o mundo parece-nos como o queremos que ele seja, mas, será que não existe um paraíso onde queremos um inferno? Não pense! Não tangeremos este estado ou processo, como queira -- se Zenão ou Heráclito, respectivamente --, através do pensamento.

A cultura, os processos mentais que se tornaram conscientes e a moral sob a qual foram submetidos em todos estes séculos fizeram-nos infelizes. Niilista sim! Porém, feliz se não souber que sou...
Que beleza do seu artigo desta segunda! Como pôde um simples sorriso mudar o mundo de uma pessoa. Às vezes é só disso que elas precisam. Nada de dialética, materialismo histórico, estoicismo, ceticismo, mercantilismo, apenas um singelo sorriso pode desconstruir toda uma argumentação filosófica.

Filosofia e conhecimento para quê? Se estamos apenas em busca de um sorriso doce que aqueça nosso espírito!?....
Um grande abraço,
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Referência
Baseado no artigo: PONDÉ, Luiz Felipe. A idiota de Deus. In.: Folha de S.Paulo, caderno Ilustrada, 09.07.2012.

3 comentários:

  1. Embora pareça vã, pra não dizer inútil, visto que a utilidade de alguma coisa seja quase que nada, a filosofia presa em si, em suas teorias e nos "ismos" que ela cria, vira debate intelectual árido, seco, quase inútil. Neste momento é que o NIILISMO INTELECTUAL ocupa nossos sentimentos, e então, coisas pequenas, corriqueiros, como um sorriso, um abraço, um "oi" de uma criança nos traz de volta para o convívio humano.
    Mas enfim, o conhecimento não degenera a humanidade, o que degenera a humanidade é o utilitarismo impregnado em nossa produção intelectual, que, segundo os frankfurtianos, denomina-se "Razão instrumental".
    Pensar é um ato tão prazeroso quanto um sorriso, um olhar, um abraço, um carinho qualquer.
    Tenha estas palavras e pensamento como um abraço amigo.

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  2. Amigo, belo texto.Conhecimento nos faz sentir poderosos, mas humanos que somos, as vezes mais vale um aconchego, um olhar , ou um sorriso para trazer a felicidade bem perto de nós.
    Viver é isto, um pouco de tudo.
    Tenhas uma ótima semana.Bjs Eloah

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  3. Oi Joandre! Particularmente, sou pela simplicidade, sempre. Acredito que a contemplação é o que nos faz perceber e experimentar, intensamente, o sorriso ou a lágrima à nossa volta. Ab, Regina Maria

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