quinta-feira, 12 de julho de 2012

Escatologia

Em uma sala esquecida em um sobrado velho e decadente de dois andares ao final de uma ruela marginal, onde nem o som da movimentada rua direita chegava, perdido por entre os corpanzis dos arranha-céus imponentes, protegido do sol que se levanta e quando se deita entre esses aterradores mausoléus de concreto armado, ouvia-se algo inquietante: um TIC em seguida um TAC, esquecido em um canto da sala, abandonado e suspenso por um prego enferrujado que penetrou a velha parede há séculos, imponente com seu pêndulo oscilante: lá estava ele. Uma pequena caixa de madeira perfurada pelos cupins, intrépidos seres alados desgarrados que chegavam até aquela sala esquecida e sobreviviam às custas de sua madeira, estava ele lá, um decadente relógio antigo que ainda gemia em TIC's e TAC's. Cada dupla de gemidos uma preguiçosa e magérrima haste, em um concertado movimento, saltava minúsculos espaços, quando completava uma volta levava consigo outra haste mais robusta a dar um saltinho à frente, era a única coisa que se movia e prestava-se a algo. A sala enchia-se de incessantes TIC's e TAC's. Tudo pareceria sempre igual se não fosse pelos TIC’s e TAC’s. tudo parecia eternizado a cada gemido do relógio. Mas, um momento estranho e a minúscula e raquítica haste oscilou em desespero: um salto adiante e outro salto de volta, ouviu-se um TIC, mas não ouviu-se o TAC. Tudo parou a espera do TAC. O silêncio imperava, o TAC não vinha, nada mais se ouvia, ficou tudo congelado. Era o fim dos tempos...

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