segunda-feira, 13 de julho de 2009

As cartas de amor e a juventude



Voltei para casa. Acabava de viver o primeiro dia do ano dos homens velhos, que nesse dia se distinguem dos jovens não porque já não lhes dêem boas-festas, mas porque não acreditam mais no Ano-Novo. Eu ganhei boas-festas, sim, mas não a única que me teria alegrado: uma carta de Gilberte. E no entanto eu era ainda jovem, pois lhe escrevera uma carta com a qual esperava, contando-lhe os sonhos solitários da minha ternura, inspirar-lhe sonhos semelhantes. A tristeza dos homens que envelheceram consiste em nem ao menos pensar em escrever tais cartas, porpque já sabem que são inúteis.
(PROUST, Marcel(1871-1922). À sombra das raparigas em flor. Trad. Mario Quintana. São Paulo: Globo, 2006. p. 86)
Foto: Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/turismo/europa/images/proust_01.jpg. 13/07/2009 21:51

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