domingo, 4 de dezembro de 2011

A crise e o Brasil

Esta semana fomos surpreendidos por medidas do governo brasileiro em contrapartida à crise nos países europeus e nos Estados Unidos.

O corte  de meio ponto percentual na taxa básica de juros pelo Banco Central, aliado à queda de impostos sobre alguns produtos alimentícios, como massas e sobre bens duráveis. A medida ainda é discreta, nas não se pode dizer que o governo está impassível.

Novas medidas tomadas no sentido de incentivar a entrada de capital estrangeiro -- diga-se dólares -- no país, a eminência da crise e recrudescimento das políticas fiscais dos Estados sobre a saída de capitais criam a mentalidade do resgate de investimentos em benefício da liquidez. Este cenário afugenta o investidor que procura "raspar" tudo o que têm para liquidar dívidas ou, até mesmo, para manter seu dinheiro em investimentos em um lugar seguro. Considerando estas situações, é normal a fuga de capitais do Brasil em direção ao seu país de origem.

Outra tática utilizada pelos grandes investidores deve ser um aumento das remessas de lucros às matrizes das transnacionais. Este fato deveria ser observado com atenção e até revisado a sua regulamentação. Afinal,  estamos em um momento crítico, que não foi criado por nós, mas estamos "pagando".

Embora a política econômica do governo pareça acertada, ainda demonstra-se incipiente às exigências da crise. Na minha visão, esta é uma margem de manobra a ser explorada; a regulação das remessas de lucros ao exterior.

Por outro lado, o Brasil é um país atípico, onde as regras de mercado não funcionam alinhadas ao pensamento econômico ortodoxo e reinante no resto do mundo. Consideremos que até bem recente convivíamos com uma inflação galopante. Logo, as medidas de incentivo do consumo não devem vir sem uma facilidade na obtenção de crédito, viabilizando uma rápida capitalização do setor produtivo, intuindo-se que, ao fomentar o consumo, em contrapartida, há a necessidade de se compensar com um volume de produtos em disponibilidade. Caso contrário, o governo estará "atirando no pé". Uma nova era inflacionária é a última coisa que queremos ver renascer do passado.
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Fonte: Medidas contra a crise, Folha S.Paulo, domingo, 4 de dezembro de 2011, p. A2.

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