domingo, 25 de novembro de 2007

Quanto Vale uma notícia...

Por Joandre Oliveira Melo

É público e notório que hoje em dia há uma revolução nos meios de comunicação, devido principalmente à disseminação da Internet, ao avanço da transmissão de dados por meio eletrônico com uma rapidez nunca antes vista em toda a história do homem. Essa revolução acaba afetando a mídia escrita e televisiva, acirrando a concorrência e excluindo da competição aqueles jornais e revistas de menor poder econômico em benefício de outras mídias aliadas do poder burguês e com fôlego para competir com os meios de transmissão de dados eletrônicos e prosseguir em suas atividades. No entanto, os interesses desses grandes grupos inclinam-se pouco ou nada ao interesse público, mas para seus próprios interesses. Como saída para essa situação, Jürgen Habermas manifestou uma opinião controversa, conforme descrevo abaixo.

O notável filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1929), causou impacto – segundo informações no caderno Mais, publicado na folha de S. Paulo de 27 de maio de 2007 – ao rever o papel do Estado na comunicação de massa na Alemanha.

Habermas refere-se à mídia como “o quarto poder”, e sustenta a intervenção do Estado na manutenção de veículos de comunicação que difundam as notícias com qualidade e neutralidade. Ou melhor, é preciso que o Estado assuma a condução de jornais, revistas, mídia televisa que sejam “formadoras” ou informadoras do público e que estejam em crise.

Essa intervenção, justifica-se, segundo Habermas, como um dever do Estado, tal qual o provimento de Energia Elétrica, gás ou água. O Estado estaria protegendo o interesse público: a informação. resguardando-a da malícia e da busca desenfreada de lucro. Essa crise da informação poderia “avariar” a soberania do Estado, destruindo ou deturpando os fundamentos democráticos em benefício dos interesses econômicos.

Habermas afirma que não só subvenções diretas, mas a criação de fundações com capital público acena como uma solução para o estado caótico de algumas mídias responsáveis pelo “abastecimento” informacional das massas.

Acima de tudo, Habermas evoca a crítica adorniana da indústria cultural como ponto central. E a questão central: Será que poderia haver uma membrana impermeável que impedisse às determinações econômicas de penetrar nos “(...) poros dos conteúdos culturais e políticos dispersos no mercado”?

Seja como for, é uma idéia no mínimo inusitada. Pois, pensar em um monopólio das informações pelo poder econômico é uma ideia terrivelmente assustadora que poderia arrebatar-nos a uma realidade como aquela exposta por Aldous Huxley(1894-1963) em sua obra de 1932: “Admirável Mundo Novo”. A afirmação do Estado enquanto protetor das mídias decadentes que não conseguem, devido ao estado de coisas atual, manterem-se no mercado e levar uma informação mais “limpa” e neutra aos leitores sugere sua intervenção para evitar a derrocada da democracia, na Alemanha. Esta sustentação é ainda temerosa, pois a informação poderá ser manipulada para legitimar o poder de Estados autoritários e antidemocráticos.

O questionamento de Habermas traz à luz um cenário atual, onde o poder do Estado esvaiu-se ou está em vias de tal; sendo que, em seu lugar, assumiu o poder as megacorporações. Isto posto, seria a confirmação cruel de que a ordem democrática já não existe mais, ou, se existe, sobrevive sob o jugo do poder econômico.
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Referências Bibliográficas

HABERMAS, Jürgen. O valor da notícia. In. Folha de S. Paulo, 27/05/2007.

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