quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O eterno debate entre os cientistas físicos e os cientistas sociais

Joandre Oliveira Melo

Muito interessante o artigo publicado na folha de São Paulo pelo psicanalista e professor da PUC/SP, Renato Mezan. O nome do artigo é: “Sobre pesquisadores e andorinhas” e foi publicado em 29/04/2007, no caderno Mais. Gostaria de abordá-lo na análise abaixo.

Em resumo, o autor reflete e, ao mesmo tempo rebate a idéia equivocada, que os pesquisadores e cientistas das especialidades de exatas têm sobre o objeto de estudo e o método de análise dos profissionais da área de humanas.

Segundo o Mezan, os tempos estão mudando com relação às pesquisas; onde antes trabalhava solitariamente um cientista, hoje em dia, trabalha-se em equipe. Os projetos agora não remetem à responsabilidade de uma só pessoa, mas ao grupo.

Outra crítica do autor refere-se à exigência de se ter uma publicação do trabalho em uma revista especializada e, ou que seja julgado pelos seus pares. Caso contrário, o conhecimento produzido não tem valor. Ele critica o que chamou de “monismo epistemológico”, de certa forma, imposto pelas carreiras das ciências exatas e que buscam sempre uma lei universal ou, que tudo se explique através da lógica formal e acadêmica. Ele segue em defesa de um método para cada disciplina.

Mezan enumera algumas diferenças. A primeira refere-se à impossibilidade de se trabalhar experimentalmente com objetos abstratos (como um documento medieval). Convivem, continua Mezan, no objeto de estudo das ciências humanas, inextricavelmente conjugados, traços únicos e traços comuns ao gênero. Ou seja, para o cientista da natureza, basta uma amostra para que seja analisada e se conheça o todo. No caso acima, o cientista tem uma forma padrão de desenvolver seu estudo. Por outro lado, os cientistas da área de humanas, como o historiador, por exemplo, na maioria das vezes, não podem repetir ou submeter o seu objeto a experimentos; contudo, o historiador, no nosso caso, dependendo da forma com que aborda um tema, pode formular teorias que são capazes de trazer à luz abordagens consistentes e de grande alcance. Logo, cria-se um consenso sobre tais objetos. Devido à singularidade do objeto das ciências humanas, os resultados geralmente se manifestam em livros que sintetizam vários anos de trabalho.

Outra diferença, é a tendência da individualidade; Mezan afirma que grandes sínteses de pensamentos e até sistemas complexos, na maioria das vezes, surgem da cabeça de uma única pessoa. No caso de um sociólogo ou filósofo, trabalhando com objetos abstratos e de naturezas diversas, fica mais difícil compreender o todo através das partes, embora, em alguns ramos, o trabalho possa se desenvolver em equipe na formulação e testes das teses, a conclusão repousa, quase sempre, na compilação mental dos dados por um indivíduo.

O nobre escritor assegura que o impacto de um trabalho não tem relação com o fato de ter sido pensado e trabalhado por uma pessoa ou por um grupo, mas se ele é capaz de enriquecer os conhecimentos já adquiridos, confirmando-os ou refutando-os. Afinal, todo conhecimento é coletivo; não se pode pensar um empreendimento como esse sem estar dialogando, compartilhando informações, fazendo uma pesquisa bibliográfica, entre outras formas de relacionamento e troca de informações.

Mezan conclui conclamando aos pesquisadores das ciências humanas para uma cruzada contra o preconceito. As armas são: a excelência dos trabalhos; o foco preciso na produção de um conhecimento consistente e que atendam, infelizmente, as demandas utilitaristas do presente.

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Referências:

Mezan, Renato. Sobre pesquisadores e andorinhas. In.: Folha de S. Paulo: 29/04/2007 (p. 6).

Um comentário:

  1. Com relação à ciência histórica mais especificamente, sugiro aos interessados a leitura da obra clássica de Marc Bloch "Introdução à História", escrita em 1942, quando Bloch era prisioneiro dos nazistas (foi fuzilado em 1944). Pelo que eu li dos comentários do Joandre, penso que Bloch discute a maior parte dessas questões em seu livro. Na verdade, para a História, esse debate teve início mesmo em 1929, com o lançamento da Revista dos Annales, por Marc Bloch e Lucien Febvre. Mas como bem colocou o Joandre, esse debate parece ser eterno.

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