sexta-feira, 29 de julho de 2011

Devaneios III - Fúria



Poderia um homem viver, apenas, de seus sonhos?

Apresso-me, pois, em responder-vos:
Talvez não;
ele não foi feito somente para isto.
Ele é como um barquinho;
um singelo e frágil barquinho
amarrado ao cais.
Atado ao tronco,
tão fortemente, pela proa
que nem a mais intrépida das tempestades
consegue arrancá-lo.
O vento sopra forte,
o barquinho sacoleja
embalado pelas águas do fiorde.
Antes, inquietas, aos poucos,
tornam-se um turbilhão;
elevam-se em ondas magníficas
que arrebentam em estridores angustiantes.
Porém, o barquinho resiste;
debate-se contra o lenhume do cais,
pobre embarcação,
debate-se, vai de encontro,
repuxa, balança
para lá e para cá.
Oh!
Pobre sejas tu, ignóbil presença.
Qual opróbrio cometeras
para ter como algoz
os grilhões que te aprisionam?
Ao acaso não foras feito,
pelas mãos do demiurgo,
para que transpuseste os mares,
cortando as cristas de suas ondas,
borrifando-as em jatos como aqueles dos halos das grandes baleias,
Singrando a vastidão do sem fim
em direção ao poente,
assim como o impetuoso corcel corta a planície solitário,
livre, solto.
Oh! Homem moderno: estas seguro no cais onde te aprisionaram, e o impedem de confrontar teu destino; porém, não foste feito para isto....
Por Joandre O. Melo

3 comentários:

  1. Olá, tudo bom?
    Achei bem diferente o poema, diferente do que estou acostumada a ver!
    Também acho que o homem não sobrevive só de sonhos. Muitas vezes, o próprio sonho derruba o homem, que por sonhar demais, caso não realize o sonho, deixa se abater e ignora as outras oportunidades que surgem ao seu redor, por ter fracassado ou estar desanimado!
    Eu acredito numa coisa: tudo na vida tem seu lado positivo e negativo... e você só irá descobrir quais são esses lados quando procurar por ele... Mas, antes, terá que enfrentar muita coisa ><
    Parabéns pelo poema e pelo blog ;)

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  2. Cara Mayara, muito obrigado por suas palavras. Fiquei muito alegre que você tenha gostado e de sua interpretação sobre o tema.
    Obviamente, um texto inúmeras leituras possíveis. Eu busquei traduzir o sentimento de angústia do homem diante da opressão das convenções sociais, o sofrimento e angústia de um homem que conhece e sabe do seu fim.
    Assiste tacitamente a sua degeneração em direção ao fim.
    muito obrigado.

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  3. Impossível vivermos apenas dos nossos sonhos, não é mesmo? A realidade nos chama, vem de encontro a nossa cara o tempo todo.
    Mas os sonhos... eles são fundamentais para nossas realizações e para nos ajudar a suportar as partes duras da vida.
    Um abraço, Joandre!

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