Um domingo, pela manhã, seguíamos para a igreja. Miles caminhava ao meu lado, e flora, acompanhada de Mrs. Grose, adiante. Era um dia claro; geara um pouco durante a noite e o ar de outono, brilhante e vivo, tornava quase alegre o repicar dos sinos. Por uma estranha sucessão de pensamentos, aconteceu sentir-me, naquele momento, particularmente grata pela obediência que os meus discípulos testemunhavam. Por que não se rebelavam nunca ante a minha inexorável e constante companhia? Alguma coisa me deu a sensação de que o menino estava como que preso por um alfinete ao meu xale, e que eu, a julgar pela maneira disciplinada com que marchavam junto de mim, talvez houvesse conseguido encontrar, sem o saber, algum meio de evitar qualquer perigo de rebelião. Eu era como um carcereiro que se mantivesse alerta contra possíveis surpresas e evasões. Mas tudo isso pertencia -- refiro-me à magnífica condescendência das crianças -- ao conjunto de fatos particularmente espantosos que já descrevi. Metido em sua roupa domingueira, feita pelo alfaiate do tio, que recebera carta branca e que compreendia muito bem a importância dos belos coletes para realçar a elegância masculina, Miles revelava em sua pessoa títulos tão convincentes relativos à sua independência, aos direitos de seu sexo e de sua situação social que eu nada teria a responder se, naquele instante, me houvesse reclamado a sua liberdade. Pela mais estranha coincidência, eu estava pensando na maneira de enfrentá-lo quando a revolução, iniludivelmente, ocorreu. Digo "revolução" porque vejo agora que, com a palavra que ele proferiu, a cortina se ergueu sobre o último ato de meu terrível drama -- e a catástrofe se precipitou.(...)
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Referência:
JAMES, Henry. Outra volta do parafuso. trad. Brenno Silveira. São Paulo: Abril 2010. pp. 111-112.
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