quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Canto para a minha morte (1984)



Raul S. Seixas (1945-1989)

(Declamado)
Eu sei que determinada rua que eu já passei não tornará a ouvir os sons dos meus passos.

Tem uma revista que eu guardo há muitos anos e que nunca mais eu vou abrir.

Cada vez que eu me despeço de uma pessoa, pode ser que esta pessoa esteja me vendo pela última vez.

A morte surda caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar...

Som: (Declamando)

Com que gosto ela virá? Será que ela vai deixar eu acabar o que tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio d’um copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Ou virá antes d’eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada? E que está em algum lugar me esperando, embora, eu ainda, não a conheça?

(Cantando)
...Vou te encontrar vestida de cetim, pois, em qualquer lugar esperas só por mim, e no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar...

Vem, mais demore a chegar. Eu te detesto e amo morte... morte, morte, morte que talvez... seja o segredo desta vida...
morte, morte, morte que talvez... seja o segredo desta vida...


(declamando)
Qual será a forma da minha morte? Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida. Existem tantas! Um acidente de carro, o coração que se recusa a bater no próximo minuto, a anestesia mal aplicada, a vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida, o câncer já espalhado e ainda escondido, ou, até, quem sabe, um escorregão idiota em um dia de sol e a cabeça no meio-fio.

Ó morte, tu que és tão forte....
Que matas o gato, o rato e o homem.

Vista-se com a tua mais bela roupa que vieres me buscar. Que meu corpo seja cremado e, que minhas cinzas alimentem a erva e, que a erva alimente outro homem como eu, porque, eu estarei neste homem e nos meus filhos.

Na palavra rude que eu disse para alguém que não gostava. E, até no uísque que eu não terminei de beber naquela noite.

(Cantando)
...Vou te encontrar vestida de cetim, pois, em qualquer lugar esperas só por mim, e no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar...

Vem, mais demore a chegar. Eu te detesto e amo morte... morte, morte, morte que talvez... seja o segredo desta vida...
morte, morte, morte que talvez... Seja o segredo desta vida...

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Referências:

Música composta e cantada por Raul S. Seixas(*06/06/1945 +21/08/1989)
Vídeo disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=u8RSb2B8mlE 03/11/2011 23:34.

2 comentários:

  1. OI JOANDRE,

    muito bom e este Raul Seixas imortal continua e a nos brindar com suas memórias.

    Joandre, temos postagem nova no fotofalada.

    Um abração carioca.

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  2. Esse imortal que tanto falou de morte, é admirado por novas gerações que quando ele se foi desse plano espiritual nem imaginava que ir nascer tem essa figura impar como idolo maior,,,
    um abraço to teu coraçaõ

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Agradeço pelo seu comentário.