domingo, 27 de dezembro de 2015

SILÊNCIO
Márcio Simeone
Academia de Letras de Pará de Minas
cadeira 18
Ninguém jamais tivera notícia de um silêncio tão perfeito quanto o que se ouvira naquela noite distante. 
A mansidão profunda era acalentada por um vento cuidadoso, que soprava apenas para o conforto dos seres, 
para dar algum movimento quase imperceptível ao mundo e para trazer de longe alguma esperança. 
Nada do burburinho incansável das cidades, da faina ruidosa dos vendilhões, dos estrondos belicosos dos guerreiros, das conferências doutorais dos sábios, das perorações duvidosas dos políticos, das prédicas imperativas dos sacerdotes, do alarido alucinado dos desvairados, da vozearia incessante do povo.
 Enfim, um ínfimo momento de pausa, alheio à cacofonia infindável dos humanos.
Eis o verdadeiro milagre. Por alguns instantes o verbo cessara, como se retornasse ao princípio dos princípios, restando apenas a pouca luz.
Tudo se calara, em calmo repouso, numa breve eternidade que, aos poucos, se dissolveria num renovado turbilhão.
Mas a memória desse fenômeno prodigioso perduraria desde então. 
O que se anunciara no silêncio era a lembrança daquilo que nasce em cada ser na quietude de sua alma.

Bom Natal e Feliz Ano Novo!

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