A conta do mundo é nossa ...

Vivemos um período de êxtase. Estamos em um ano de copa do mundo de futebol. Nenhum outro evento mobiliza tanto os brasileiros quanto esta competição. Parece que nesta época assumimos algo que não conhecemos realmente: a identidade de brasileiros. Enquanto durar o campeonato.

Basta uma volta pelos arrabaldes para verificarmos enormes bandeiras estendidas nas janelas das casas. Bandeirolas tremulam sobre os transeuntes transformando a visão do céu azul num mosaico em tons de verde e amarelo.

A cidade cinzenta povoa-se de cor, a cor da nossa bandeira. Vende-se muito mais aparelhos de televisão, para a felicidade dos comerciantes e fabricantes desta parafernália.

Nos dias de jogos todo o cotidiano do país altera-se: dos órgãos públicos às empresas. O que não era possível, porque perder-se-ia vendas, agora é lei, e boicotem aqueles que permanecerem abertos. Abertos apenas aqueles locais onde há um aparelho televisor para transmitir os jogos.

Tudo muito bom, perfeito demais. Bem o disse o nobre escritor Paulo Coelho, em seu twitter: que há o lado bom de tudo isso, podemos ficar cinco horas junto à TV sem sentirmos culpa. Ele tem razão. Maravilhoso não é? Parece que tudo parou para assistir aos jogos da copa.

No entanto, alertados pelas palavras do ex-chefe supremo de Cuba, Fidel Castro, divulgada na coluna "reflexões do Fidel", no Jornal eletrônico Granma:

(...) Los impactantes acontecimientos de la Copa Mundial de Fútbol en Sudáfrica, en el curso de unos breves días, han captado nuestras mentes.
Apenas tenemos tiempo de respirar durante las seis horas que se transmiten en vivo y en directo por la televisión de casi todos los países del mundo.(*)

Comprovamos que os acontecimentos realmente importantes e decisivos foram relegados a um plano inferior. Quem ainda se lembra do embargo ao Irã, ou, ainda, sobre o desastroso vazamento de óleo da BP ou aqueles que a fome rói-lhes o estômago enquanto a maioria desfruta de saborosos aperitivos regados à alguma bebida durante o tempo dos jogos em portentosas comemorações. Nenhum dos problemas anteriores desapareceram; o que diminuiu foi nossa sensibilidade a eles, sequestrada pelas delícias do campeonato.

Dentro de alguns dias tudo voltará ao normal e os problemas retornarão às suas posições, isto doerá muito mais do que qualquer perda no mundial...
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(*)O texto citado está disponível em: http://www.granma.cu/espanol/reflexiones/17junio-reflexiones.html, 19/06/2010 22:18hs.