Toda teoria tem seu limite, e é completa enquanto dure. Tal como acontece nos meios acadêmicos entre as ciências sociais, os projetos nunca devem ser traçados como absolutos. Aliás, todo o conhecimento humano baseia-se na negação. Talvez devêssemos escutar Hegel com sua aguda percepção em riste ao problema do conhecimento. Toda a existência do cosmo baseia-se nos contrários, à medida que algo vai se firmando como verdadeiro, imutável; enfim, um evento ao se firmar, exasperam-se em seu interior contradições que chegarão a ponto de destruí-lo produzindo um novo evento. E de eventos em eventos, parindo o “novo”, o universo “caminha”. Ao pobre Homem, incapaz de conceber o todo, cabe apenas compreender a parte. Mas, o todo que está na parte não se mostra como todo a não ser como contradição do evento. Assim, todo evento é um evento e potencialmente um contra-evento.
Heráclito entenderia bem isso; a mudança constante, eterna, o que “é”, gestando dentro de si o que potencialmente poderá ser. Até o momento da substituição onde o que “é” deixa de “ser” para se tornar o novo. A Potência se torna Ato, como dizia Aristóteles.
Um exemplo desse constante devir é a interessante publicação na folha de S. Paulo, coluna ciência, em 23/06/2007, onde descreve que a “teoricamente” comprovada teoria da existência dos Buracos Negros estaria negada.
Com efeito, John Brockman, assinalava anos antes que, caso existissem, os buracos negros talvez não fossem “negros”.
Karl Schwarzchild, esboçou matematicamente, o que poderia acontecer com um corpo submetido a uma força gravitacional tão poderosa que fosse capaz de encolhê-lo além do limite da “própria trama do espaço”. Anos mais tarde John Wheeler batizou-os “Buracos Negros”.
“admite-se agora que os buracos negros sejam estrelas gravitacionalmente contraídas, tão densas que uma colher de sopa de sua matéria pesaria mais de um bilhão de toneladas. Originalmente acreditava-se que nada, nem mesmo a luz, poderia escapar deles. Por essa razão, os astrônomos postulavam inicialmente que os buracos negros fossem completamente invisíveis.(...) [para um grupo de cientista] são na realidade protogaláxias, mostrando como todas as galáxias eram em sua infância. Outra escola de pensamento sustenta que as galáxias se formam primeiro, depois as estrelas densas em seus centros se coalescem e se contraem formando os buracos negros”(BROCKMAN. 1988:48-49).
Um ponto no espaço de onde nada pode escapar. Um vórtice do espaço-tempo onde nem a luz escaparia e que toda a matéria em seu limiar, ou “horizonte de eventos” como os cientistas os chamam, através da enorme atração gravitacional, desabam em direção ao centro. Nessa queda acelerando-se continuamente a matéria “engolida” poderia adquirir energia suficiente para que parte dela escapasse retornando ao espaço em jatos de radiação. Através dessa energia poderíamos observar os buracos negros, que já não seriam negros e sim, poderíamos dizer, “buracos brancos”.
Já podemos notar as controvérsias do processo de concepção e formulação desses maciços corpos celestes.
Um trio de cientistas norte-americanos apresenta uma outra versão para os propalados buracos negros. Segundo Krauss, um dos cientistas, a “(...) matéria concentrada no local evaporaria toda na forma de radiação, assim com Hawking previu, só que antes de o buraco negro se formar. O que existiria então, é uma espécie de ‘quase-buraco negro’”(GARCIA, 2007:A35). Eles dizem poder comprovar suas teorias com os novos mega-aceleradores de partículas.
Os aceleradores de partículas se parecem com gigantescos tubos, estendendo-se às vezes por quilômetros, onde através de um extraordinário campo eletromagnético, especialmente produzido, uma partícula é acelerada até atingir velocidade, bastante elevada, próxima a da luz. Destarte, submetendo a matéria sob tais condições, os cientistas podem observar seu comportamento e, até mesmo simular o decaimento da matéria em direção aos maciços centros gravitacionais.
O mais importante do texto acima é que, a todo o momento, teorias são postas à prova, algumas resistem por determinado tempo, outras perecem mais rapidamente. Nada garante que complexos modelos, bem testados, bem elaborados e fundamentados em leis até então sólidas e aceitas, sejam questionados e refutados em um futuro próximo.
Isso vale mais ainda para o historiador que trabalha com algo que não pode tocar, não pode experimentar. O seu objeto não pode ser submetido às experiências; não se pode misturar, por exemplo, fatos em um tubo de ensaio e levá-los a uma centrífuga para depois observá-los e ver o resultado. Os Fatos já não existem mais, são como revérberos do passado. O documento, a obra de arte, a poesia, a memória, a imagem é sua única matéria prima para trabalhar e analisar o fato. Por isso, o Historiador pode apenas supor, idealizar, utizando-se de um método e dos rastros deixados pelo fato para concluir sua análise.
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Referências bibliográficas
BROCKMAN, John. Einstein, Gertrude Stein, Wittgeinstein e Frankstein: reinventando o universo. Trad. Valter Ponte. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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