sábado, 17 de novembro de 2007

A Revolução

Sinópse: Este texto foi escrito por mim para o Concurso de Crônicas e Poesia da FAPAM, com qual me classifiquei em 2º lugar. Através do texto procurei refletir sobre as "Revoluções" que supomos tê-las vivido. Questiono também o atual estado de coisas que, apesar de construído pelos homens, transcederam o seu criador e são considerados algo indiferente ao Homem, algo sagrado e, como nosso algoz, guia nossa vida. Será que o sistema tornou-se consciente?


Por Joandre Oliveira Melo

A Revolução é o ato mais puro da existência humana. É através dela que ocorre a mudança radical, em todos os sentidos: em nossa organização social, nossa forma de viver e relacionarmos com os outros. Enfim, através dela impérios são derrubados, governos e organizações políticas emergem, idéias se corporificam.

É a fantástica e vigorosa ação do Homem, determinado, levada às últimas conseqüências, dirigida pelas condições materiais de sua existência, para, de alguma forma, tomar-lhes as rédeas e por o antigo abaixo e sobre seus escombros soerguer aquilo que consideram novo e perfeito. Algo que possam se vangloriar.

A Revolução, para alguns, está revestida de uma áurea sagrada, é a realização do espírito indômito do ser humano, a materialização dos ideais, dos seus anseios e devaneios. O solapar das forças e poderes vigentes pelas novas forças e poderes que passarão a reger as ações humanas, a guiar suas vidas. Legitimam-na com a humilhação e destruição do “antigo”, do “atrasado”, daquilo que deve mudar. Regam-na com o sangue dos vencidos, alimentam-na com a carne dos que tombam pelo caminho.

A Revolução, necessária e ao mesmo tempo detestável e vil, dirigindo a humanidade para o seu fim único: O recomeço, às suas origens, a plenitude do animal “humano”. Desencadeadora de mudanças, berço do novo que se tornará velho e sucumbirá com a próxima Revolução, rompendo laços dolorosamente, ou apenas desatando alguns nós ou, às vezes, de um só golpe rompendo o “nó górdio”. Algumas vezes a solução, em outras, a causa do problema.

Não é isto que temos feito todos os anos da nossa “evolução”? Revolucionamos sempre... Mas, será que sentimo-nos livres, plenos? Hoje somos o máximo que a Revolução pôde nos transformar...

No entanto, na esteira de Rousseau, hoje somos degenerados, porque pensamos e revolucionamos. O Homem verdadeiro criado pela natureza, mãe de todos, morreu. A Revolução o matou. Será que não seríamos tão selvagens na visão de um Australopithecus (designação de ser ancestral da espécie Homo. Cf. JOHANSON, Donald C. O filho de Lucy. RJ. 1998), quanto eles os são para nós? Portanto, quem são os degenerados? Aqueles que a mãe natureza criou ou o Homem que o Homem criou?

De Revolução em Revolução, criamos consciência de nós mesmos, e a demos ao sistema; nasceu o grande Leviatã, o crocodilo das águas. Em defesa do Homem, da luta de todos contra todos, nasceu o Capitalismo; sistema que nos segrega, nos aprisiona, nos manipula como quer. Ele já existe quase por si só. E o Homem que revoluciona quase inexiste... Nada pode nos parar, entramos em rota de colisão.... O espírito humano já não consegue nem mais a sua voz, não pode mais refletir, nem sentir sua insignificante presença no universo, sua efêmera existência material.

Mas, acima de tudo, pensamos...

Revolucionamos...

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