sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A velha Senhora vai às compras: O desmoronamento do Bloco Socialista e a entrada da Rússia na Economia de Mercado.


Sinópse: O texto abaixo faz uma pequena reflexão sobre o artigo do professor Ângelo Segrillo, na folha de S. Paulo. Unindo a metodologia das novas correntes historiográficas e analisando o enfoque dado pelo autor, tentei levar o leitor a reconhecer na produção individual e na formação da mentalidade , sem contudo deixar de analisar a faceta econômica que interfere, substancialmente, nas ações e no curso da História da Humanidade, a compreender a mudança de rumos da Rússia no processo Histórico mundial. O estado de coisa que hoje se instala é resultado da produção humana, contudo, os Homens não o reconhecem e vêm nele algo de transcendental, mas, a História do Homem está sendo continuamente reescrito e recontada.

Por Joandre Oliveira Melo

Vejam como os fatos históricos podem ser revistos, ao cabo dos acontecimentos. Como vimos nas aulas de História contemporânea, a queda do regime socialista na antiga União Soviética, teria sido gerado ou, pelo menos, bastante influenciado por medidas do então Líder Mikhail Gorbatchev, de abertura da economia ao famigerado capital estrangeiro. Pensando, talvez, como o idealizador do regime socialista – Vladmir Ilitch Ulianov (Lênin)(1870-1924) que ardilosamente fomentou as bases econômicas para a sustentação do regime que implantava em 1917 - abrir uma “brecha” por onde entrariam investimentos estrangeiros e, estes, revitalizariam a decadente economia socialista. No entanto, as forças capitalistas, já bastante evoluídas, e tendo passado pelas fases descritas por Marx (1818-1883) – de acumulação primitiva de capital e incremento das forças produtivas – solaparam o debilitado mercado Soviético. A derrocada foi total; a economia e a política, intimamente ligadas, renderam-se à economia de mercado e à democracia liberal. Ironicamente, os acontecimentos remontam às idéias de Marx: onde o modo de produção determina o ritmo das relações sociais; portanto, muda-se o modo de produção alteram-se as relações sociais “acima”. Porém, Marx pensava que os antagonismos do capitalismo, gerado pela intensa exploração do homem pelo homem, o levaria a ruína e, em direção ao socialismo e posteriormente ao comunismo.

Em primeira mão, acreditava-se, assim como eu, que um erro de cálculos poderia ter sido a causa da queda do regime socialista na União Soviética. Pensava-se, que o socialismo realmente não se sustentaria, como não se sustentou, por causa de sua fragilidade, por ser uma forma de se travar relações completamente impostas, ou seja, uma ditadura e, como tal, sustentava-se através da força e do enclausuramento do regime perante as forças capitalistas. Destarte, uma pequena abertura, como Lenin já havia feito antes, quase como uma sangria às avessas, recuperaria o já minado sistema econômico socialista. Isto posto, seria uma confirmação da teoria de que o capitalismo pairava superior a qualquer regime sócio-econômico-político, e revigorava a posição neo-liberal, reafirmando a máxima de Adam Smith e dos economistas políticos, de que o mercado se auto-regula.

Entretanto, a membrana, que envolvia todo o sistema Soviético, não teria sustentado a pressão e rompera-se; era algo como na biologia, a tendência de todo elemento passar do meio hipertônico para o meio hipotônico, ou seja, do meio mais concentrado para o de menor concentração. Dessa forma, era evidente um erro de cálculos, pois, somente através da manutenção dessa “membrana” o regime socialista poderia continuar existindo.

Nenhum traço, no entanto, até o momento, revelava-se como sendo consciente ou premeditado por parte dos políticos Soviéticos em relação a esta “terapia de choque”, vislumbrando uma abertura lenta, gradual, porém, contínua em busca de uma economia de mercado e de um regime liberal.

Em 1985, Mikhail Gorbatchev acena com a “Perestroika”, o novo momento. Para apoiá-lo nessa empreitada, recorre a Boris Ieltsin (1931-2007) entre outros, considerados como líderes “jovens” e dinâmicos. Em 1991, chegava-se ao fim do regime socialista e da própria União Soviética, como bloco socialista.

De acordo, com Ângelo Segrillo, em seu artigo, “Um outro lado de Ieltsin”, – baseando-se nas auto-biografias de Boris Ieltsin – para a Folha de São Paulo, de 29 de abril de 2007, afirma que: “As entrelinhas da biografia de Ieltsin deixam claro que a opção da Rússia por uma ‘terapia de choque’ foi consciente e pensada. Foi uma opção política”.

Ieltsin, continua Segrillo, com seu temperamento emblemático, acabou por imprimi-lo na política da Rússia. Por isso, afirma, ser importante a análise dos seus diários. Sucessor de Gorbatchev no posto de comando, elegendo-se, através das primeiras eleições parlamentares “livres” da união Soviética, como presidente da democrática Rússia, demonstrou-se empenhado em defender essa democracia. Embora, suas ações não deixassem transparecer com convicção esse seu lado democrata, “como quando mandou canhonear o Parlamento para resolver o impasse entre o presidente e deputados em outubro de 1993”.

Com relação à “terapia de choque”, descreve Segrillo, está claro nas “entrelinhas da biografia de Ieltsin”, que havia um desejo de uma passagem do Socialismo para o capitalismo e, como muitos afirmam, não se tratava de um erro de cálculos, mas, de uma “(...) opção consciente e pensada”. Para alguns críticos, mais ponderados, uma transição mais gradual seria mais sensata e, “(...) evitaria muitos dos traumas, distorções e injustiças ocorridos durante a gigantesca privatização feita às pressas”. Mas com seu temperamento impulsivo, Ieltsin impõe-se à sua equipe econômica a necessidade de uma mudança mais profunda e rápida para que o “sofrimento” não se prolongasse e, maquiavelicamente, daria um golpe com punho de ferro sobre a oposição que, poderia, com uma mudança mais gradual se reorganizar e, talvez, impedir a concretização da passagem do regime socialista ao regime capitalista. Nesses moldes e, analisando documentos pessoais de um presidente, combate-se a idéia de um “erro de cálculos”; a opção teria sido, portanto, política.

Ieltsin, terminou por ficar indelevelmente marcado por suas ambições, apesar de ter conseguido seu intento e, empossar, como seu sucessor, o atual presidente Vladmir Putin seu parceiro de idéias. Entretanto, não foi apenas a vida de um homem que ficou marcada, mas a da Rússia e de todo o mundo. Ao sucumbir, o regime socialista levou consigo a possibilidade de existência de um outro modo de vida a não ser o modo capitalista de consumo. Uma alternativa ao atual regime desfez-se como castelos de areia. Por esse motivo, as teorias marxistas terão de ser novamente repensadas; uma profunda revisão das idéias de Marx, se impõe à nova geração. Se nós queremos manter um regime consumista tal como está, com a destruição da natureza, dos ecossistemas, um constante desprezo ao ser humano e as seus valores e necessidades. Uma vida totalmente plástica e contraria a natureza do Homem.

Na História tudo pode ser questionado; dependendo do momento, das forças ideológicas que estão atuando e, principalmente daquele que a faz: o Homem.


Texto publicado no Jornal Diário de Pará de Minas, em 24/10/2007. Produzido por Joandre Oliveira Melo.
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Referências Bibliográficas

SEGRILLO, Ângelo. Um outro lado de Ieltsin. Artigo para Jornal: Folha de São Paulo, 29/04/2007. p. A19.

Um comentário:

  1. Joandre, legal o Blog.
    É sempre bom e enriquecedor compartilhar informações e idéias. É assim que crescemos todos.
    Grande abraço.
    Jamir Lopes.

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