No poema abaixo, escrito no século XVII, Gregório de Matos - considerado um marco do Barroco no Brasil - discorre sobre dois conceitos da linguagem: O Todo e a Parte.
Sua análise é aguçada quando encontra um braço, supostamente de uma imagem do Menino Jesus. A percepção do braço leva-o a mentalizar toda a imagem do Menino Jesus. Logo por dedução: O Todo está em toda Parte... é uma pérola do silogismo.
Por Gregório de Matos(*)
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
(*) Gregório de Matos e Guerra nascido em Salvador ou Recifie, provavelmente em abril de 1623, alcunha Boca do Inferno, foi advogado e poeta do período colonial. É considerado o maior poeta do Barroco brasileiro. (Dados obtidos do Wikipédia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Greg%C3%B3rio_de_Matos. 26/01/2008)A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
(**) Imagem obtida em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Greg%C3%B3rio_de_Matos.jpg. Disponível em: 26/01/2008.
mais alguém tá lendo por aqui?
ResponderExcluirque bostq
ResponderExcluirTo.
ResponderExcluirEstou fazendo um trabalho sobre gregório de matos e este poema um dos objetos de análise...
ResponderExcluirMais do que apresentar uma pérola do silogismo, o poema oferece a porta de entrada para a exploração de uma problemática chave para o pensamento filosófico ao longo dos séculos, escolas e tradições. A noção de totalidade é um dos conceitos mais fecundos que a filosofia clássica nos deixou, e é determinante para a análise. Denrto desse conceito, as relações entre as partes constituintes do todo e o todo em si são observadas de distintas maneiras por vários pensadores ao longo do tempo.
gregorio de matos , com este poema, faz, ainda que sem querer, um convite para este debate.
vale dizer que existem correntes de pensamento que hoje afirmam que o todo sequer existe....
aliás, o que é o todo?
o que são as partes?
o todo de fato existe??
Espero que alguém se manifeste
Ele está propondo uma visão de conjunto: o todo não existe sem a parte e esta, por sua vez não é parte, já que pertence ao todo!
ExcluirBelíssima colocação!
ResponderExcluirSe o todo não existe ele é apenas parte, mas se a parte não tem todo ela se torna o todo. A parte se tornanddo o todo, quem são as outras partes?