domingo, 27 de janeiro de 2008

Sob o signo da crise...

Por Joandre Oliveira Melo
Novamente o famigerado sistema econômico mundial apresenta sinais anômalos. Na iminência de uma crise mundial, negras núvens estão se formando nos céus, prenuncio de que tempos difíceis estão por vir.

As previstas crises cíclicas que acometem o sistema capitalista rondam, atualmente, todo o sistema econômico mundial. Agora, contamos com a globalização que privatiza lucros e socializa prejuízos.

No início do século XX, o atual sistema, passou por uma de suas maiores crises. Os terríveis desdobramentos dessa crise foram sentidos por todo o globo. O excesso de produção - irônico, pois, com tanta produção, demonstrando toda a potencialidade das forças produtivas mundiais que estavam em franca expansão - o ressurgimento da Europa, após a Primeira Grande Guerra e o aquecimento gradual dos mercados. Esse foi o cenário onde despontoram as teorias de John Maynard Keynes (1883-1946).

Para Keynes, as crises eram inerentes ao sistema ao sistema: a dinâmica do capitalismo levava sempre a uma superprodução de bens. Ocorre que, a demanda pelos produtos distorcia ao longo do tempo, ou seja, a crise era uma deformação da "demanda efetiva". Essa "demanda efetiva" era o consumo, a capacidade, somada, de todas as nossas efetivas demandas. Em outras palavras: o consumo efetivado. Segundo Keynes, toda a riqueza produzida é, de alguma forma, distribuída em forma de salários e rendimentos. Com os salários e os rendimentos os empregados e empresários utilizam para comprar o que necessitam. Porém, essa renda não retornam totalmente ao sistema produtivo, ficando, assim uma parte, retida no mercado financeiro a procura de rendimentos mais lucrativos ou apenas guardadas para o caso de uma necessidade. Na iminência de uma crise as pessoas retêm suas rendas reduzindo seu consumo e, aplicando seu dinheiro em uma poupança ou no mercado de ações, etc. Essa propensão a poupança reduziria o consumo consequêntemente levando a um recrudescimento da crise. Como solução Keynes sugere que nessas circunstâncias, de crises, os governos entrem gastando na tentativa de reaquecer o processo de consumo, suavizando os efeitos da demanda retraída. É o que hoje conhecemos como política de "Stop'n Go".

O que vemos hoje? segundo o artigo do preclaro jornalista da Folha de S. Paulo, senhor Clóvis Rossi, a recomendação dos órgãos monetários internacionais, para amenizar os efeitos da atual crise que ameaça assolar o mundo inteiro com efeitos devastadores, - crise originada principalmente pela negligência dos capitalistas norte-americanos convencidos do espírito capitalista, na sua busca desenfreada por lucros cada vez maiores - é para os governos tomarem as rédeas das suas economias e assumirem para si a função de incentivar e apoiar a atitude consumista.

Para que se mantenha a dinâmica do sistema efetivando as ações dos governos, de acordo com o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, é para aqueles países que tenham uma "margem de manobra" que as usem para alavancar a economia mundial da crise que forma.

Um passo clássico, seria a redução das taxas de juros, isso incentivaria o consumo desestimulando a poupança, na tentativa de redirecionar todo esse capital para o setor produtivo.

É evidente que as teorias econômicas encabeçadas por Adam Smith, David Ricardo e os teóricos do liberalismo do século XVIII, estão sem fôlego agora. A mão invisível, proposta por Adam Smith, parece, no momento, mais invisível do que nunca, é quase um espectro. A teoria do laissez-faire precisará, de uma "mãozinha", não tão invisível, dos governos. Ou seja, após a crise, que foi causada pelos norte-americanos, o sistema não se equilibrará naturalmente, ou se assim o fizer, custará a destruição de uma enorme quantidade de economias pelo mundo afora. E os pobres serão os mais atingidos por essa devastação.

É público e notório que as populações sob as economias ricas têm uma propensão maior à poupança, pois, em geral, ganham muito mais do que aquelas que vivem sob as economias pobres. É também notável que as economias pobres, "alimentam" as ricas desde a antigüidade, pois para uma nação ganhar a outra perde. Em contrapartida, são mediocrimente beneficiadas pelo sistema que hoje é global. Como exemplos podemos citar a colonização da América, principalmente a América Latina e a massiva exploração da África.

O sistema capitalista sofre de um mal crônico, ele traz consigo os germes da sua destruição. Com a ajuda da extraordinária e exuberante natureza, da qual exploramos recursos para alimentarmos esse atual sistema e dos processos racionais teorizados pelos economistas tratamos o mal que o aflige. Porém, não eliminamos o germe que continua latente nas suas entranhas. Sabemos que, ao confluírem as condições necessárias, os germes manifestarão novamente e uma nova crise aflorará, o que não sabemos é se o tratamentoserá suficiente para reerguê-lo.

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Referências

Artigo de Clóvis Rossi. Desligar o piloto automático. Publicado na Folha de S. Paulo, coluna Opinião, pág. A2. em 27/01/2008.

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