As sóbrias palavras da escritora encontraram eco em minhas convicções de que existe em nós uma maquiavélica cultura de fazer ou ver o outro sofrer. Não é preciso lembrar as famosas "vídeo-cassetadas" apresentadas por uma grande e poderosa emissora de TV ou as não menos bárbaras pegadinhas veiculadas em outras emissoras. Ainda, a onda de desespero e desalento com a política e os políticos que a fazem, parece legitimar uma situação de revanchismo levando as pessoas a agirem por contravenções, justificando-se que aquilo que sonegam, será inevitavelmente apropriado indevidamente por homens inescrupulosos e que, na posição que ocupam, deveriam defender o povo, pois foi por esse povo investido do poder que ora usufruem.
Tal é o clamor da escritora quando indaga: "(...)Em pequenas proporções todos nós somos corruptos. Quem não quer levar vantagem no seu dia-a-dia? Quem devolve um troco recebido a mais? Quem não utiliza um jeitinho de anular uma multa? De ter um lucro a mais? De fazer prova olhando uma 'colinha'? De usar influência para arrumar um emprego para um familiar ou amigo?(...)". Ora tudo isto é bem verdade e passam despercebidos em nosso cotidiano. Gostaria, continua a escritora, de ver um senado moralizado, um povo cumpridor das suas obrigações, mas, sobretudo críticos e exigentes em relação à uma postura responsável dos políticos.
O desejo da nobre escritora é realmente legítimo, está velho e desgastado; não se deve, contudo, esquecê-lo. Sabemos do poder do mercado. As relações mercantilistas forjadas durante séculos não se dobram tão facilmente aos discursos e nem ao capricho dos nossos desejos.
No entanto, pesam sobre nossos ombros essa situação vil que nos acomete. Embora o processo histórico seja decisivo, não é permanente e nem imutável nossa condição. Não existe um sistema soberano, além dos desejos e das ações dos homens; eles o criaram, mas se esquecem disto e consideram-no transcendente à sua vontade Retomando, nossa posição é decisiva diante das situações, corrigindo nosso modo de ser: pensando em comunidade e não apenas em si ou pessoas da nossa familia. É preciso romper as barreiras e experimentarmos a liberdade de podermos considerar nossa família, todos aqueles que estão próximos a nós nos momentos de nossa vida. Podemos "pensar globalmente e agir localmente". É preciso, baseando-me na eminente escritora, quebrar os grilhões da individualidade.
É visível, que as dificuldades da modernidade, fizeram os jornais e revistas sérios curvarem-se ao poder do mercado transformando-se em apenas Meios de Comunicação de Massa. Esses Meios agora podem trabalhar a favor do capital e das elites, legitimando sua posição, levando-nos à massificação e alienação. Já ouviu-se o clamor de alguns de que vivemos de escândalos em escândalos. A mídia empresta seu poder ao seu verdugo para a manipulação das intenções do povo e, de acordo com os interesses, um a um os escândalos são esquecidos, são substituídos por outros mais recentes até não serem mais lembrados.
Resumindo, encontro dois problemas principais que concorrem para a atual situação degradante, além do processo histórico que não está em questão aqui, tendo em vista que disse ser algo mutável através de nossas ações. O primeiro é o nosso desinteresse para com as coisas públicas, com as nossas instituições. A alienação degradante do povo brasileiro que se deixa levar ao sabor da manipulação do mercado. Nosso desinteresse pelo outro. O segundo é o mercado e sua visão individualista de mundo. O segundo influencia o primeiro que alimenta e perpetua o segundo.
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Referências
SALDANHA, Ana Cláudia. A primeira pedra. publicado no Jornal Diário em 14 de agosto de 2009. p. 8
Joandre,
ResponderExcluirEste texto da Ana Cláudia é mesmo muito bom. Reflete bem o perfil de quem fica satisfeito com a dor do outro.
Dor, não gosto de nenhuma. Nem, minha e nem do outro. Prefiro as alegrias.
Terezinha
Joandre, meu amigo, vejo que não estou sozinha... Bom demais encontrar eco nas palavras e nos sentimentos. Estamos no mesmo barco. Agradeço suas palavras carinhosas. Abraço
ResponderExcluirAna Cláudia