sábado, 3 de abril de 2010

O mercado contra ataca

Hoje quando caminhava pela rua Benedito Valadares, deparei-me com um fila enorme em uma loja de produtos de chocolate; realmente, um paraíso para os amantes dessa iguaria. As pessoas pacientemente aguardavam na fila. Não as culpo por enfrentarem aquela fila enorme apenas para adquirir um pedaço desta pasta alimentícia de cacau e açúcar; o sabor é realmente divino, inigualável, acho mesmo quase inexplicável. Este burburinho, no entanto, ocorria por todos estabelecimentos comerciais - de supermercados a loja de conveniências -, todos à procura do "néctar dos deuses".

O que me fez pensar sobre esta situação foi a época do ano. Vivemos o fim da quaresma, período, considerado pela Igreja Católica, como de sacrifícios em harmonia com os sofrimentos de Jesus Cristo. Os mais velhos praticam os mais diversos sacrifícios durante os quarenta dias e alegram-se, ao final, com o que consideram a celebração da ressurreição de Jesus.

Porém, os capitalistas visionários, inteligentes, merecedores das dádivas e das benesses do Estado, não perderam esta chance de tornar, este final de etapa para os cristãos, menos doloroso. Os piedosos capitalistas, preocupados com o padecimento de seus semelhantes, logo imaginaram uma forma de ganhar algum "trocado", neste tempo, oferecendo aos seus clientes, crentes nesta fé, o "néctar dos deuses"; a preços módicos é claro.

O que vemos neste dia é mórbido; pessoas digladiam por um pedaço do "néctar dos deuses", a fé virou negócio: e negócio lucrativo. Não escrevo aqui como um católico ranzinza; porque a princípio não compartilho incondicionalmente desta fé, e, no entanto, também, quase sempre, me rendo a este rendez-vous do mercado. Contudo, penso que deveríamos pensar melhor sobre o que estão nos oferecendo. Deveríamos prestar atenção nas datas e seus significados que quase sempre se tornam um motivo de ir às compras.

Não há, na minha opinião, uma maneira de humanizarmos o mercado, a não ser abolindo-o. No entanto, podemos minimizar sua influência sobre nossas vidas, talvez seja uma questão de consciência.

Caso tenham alguma ideia diferente ou, ainda, posso estar totalmente equivocado, por favor manifeste-se. Ficarei muito feliz em compartilhar este desabafo. Ainda muito mais feliz, não me atrevendo aqui ao cinismo de Voltaire, se estiver errado.

Um comentário:

  1. É, Joandre, infelizmente datas que deveriam ter significado religioso (e outras, que seriam para conscientização) vão passando a ser datas comerciais. Tudo é comércio, tudo envolve o consumo. É uma pena, né? O pior é que, quanto mais o tempo passa, mais a data vai se afastando de seu significado original.
    Não acho que o "néctar dos deuses" seja vendido a preços módicos, pois acho os preços um abuso, um absurdo mesmo. Como aproveitam, não é mesmo?
    Um grande abraço!

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