domingo, 7 de agosto de 2011

O Morto Prazenteiro

Não canso de surpreender-me com as palavras e as formas de Charles Baudelaire em despir a morte de seu lado funesto e cobri-la em uma indumentária interessante.

Onde haja caracóis, n'um fecundo torrão,
Uma grandiosa cova eu mesmo quero abrir,
Onde repouse em paz, onde possa dormir,
Como dorme no oceano o livre tubarão.

Detesto os mausoléus, odeio os monumentos,
E, a ter de suplicar as lágrimas do mundo,
Prefiro oferecer o meu carcaz imundo,
Qual precioso manjar, aos corvos agoirentos.

Verme, larva brutal, tenebroso mineiro,
Vai entregar-se a vós um morto prazenteiro,
Que livremente busca a treva, a podridão!

Sem piedade, minai a minha carne impura,
E dizei-me depois se existe uma tortura
Que não tenha sofrido este meu coração!

Charles Baudelaire (1821-1867). In: "As Flores do Mal" 

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Referências:
Postado no blog Oficina de Histórias por Flávio Marcus, disponível em: 07/08/2011 19:14h

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