domingo, 1 de abril de 2012

Fragmentos II

Desde 1934 -- Lampião à solta, Antônio Silvino preso no Recife, Sinhô Pereira arribado para os lados de Minas Gerais -- Clarival Valladares despertava para o mundo de significados que o cangaceiro carregava penduradas, afiveladas, cravadas ou costuradas no conjunto do traje e nos equipamentos, como ainda hoje se vê no aguadeiro das feiras do Marrocos, as cartucheiras envernizadas e bem ajoujadas ao corpo, a não deverem homenagem -- senão a requerê-la -- à guarda de um Ibn-Saud. Com a população portuguesa drenada para a aventura da Índia, foi o moçárabe, em boa parte, que veio povoar o Brasil. Presença viva na cultura brasileira, a árabe, por suas muitas composições, teve aulas a dar em maior número a um sertão de 500 mm de chuva anual que a uma faixa litorânea de fáceis 1.500 mm. O que Valladares percebeu foi a raiz pastoril da estética do cangaço, encantando-se por ver que a do guerreiro ia muito além da que pontuava as alfaias magras do pastor, por não se ver empobrecida pelo teto limitador da funcionalidade, capaz de explicar tudo na vestimenta do vaqueiro. Para ele, assim:

O traje do cangaceiro é um dos exemplos demonstrativos do comportamento arcaico brasileiro. Ao invés de procurar camuflagem para a proteção do combatente, é adornado de espelhos, moedas metais, botões e recortes multicores, tornando-se um alvo de fácil visibilidade até no escuro. lembremo-nos, entretanto, que, no entendimento do comportamenteo arcaico, o homem está ligado e dependente ao sobrenatural, em nome do qual ele exerce uma missão, lidera um grupo, desafia porque se acredita protegido e inviolável e, de fato, desligado do componente da morte. Esta explicação, embora sumária, de algum modo justifica a incidência da superfluidade ornamental no traje do cangaceiro, que, antes de sua implicação mística, deriva do empírico traje do vaqueiro.
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Referências:
MELLO, Frederico Pernambuco de. Estrelas de couro - a estética do cangaço. São Paulo: Escrituras, 2010, p. 48-9 (adaptado). Extraído de: Prova do IRB, admissão à carreira de diplomata. p.1.
(*) Imagem disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/maio2007/fotosju358-on-line/12c.jpg, 01.04.2012 16:00h

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