sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Como tudo começou

Turma SENAI 1987: em pé esquerda para direita, Alisson - Varginha, Dênio - Divinópolis; Edenilson - Campo Belo; Flávio Caldeira - Rio Piracicaba; Inésio - Sete Lagoas; José Carlos I - S. João Del Rey; José Carlos II (Carlão) Conceição do Mato Dentro; Agachados esquerda para direita: Joandre - Pará de Minas; Pouso Alegre; Marcus - Juiz de Fora; Nirto - Bom Jesus do Amparo; Paulo - Montes Claros; Rodiney - Belo Horizonte; Rogério Leal - Coroaci (perto de Valadares); tarcísio - Ubá; Tales - Itajubá. Segurando a placa D1F: Prof de eltrotécnica e eletricidade básica: Auroro.
Tudo começou em uma tarde de junho; a natureza revestia-se de tons cinza em um prelúdio ao sisudo inverno. Lembro-me bem daquele oito de junho de 1987; a tarde agonizava, quando sentei-me na relva do campo de treinamento da escola de formação profissional da CEMIG, em Sete Lagoas. Há pouco admitido, ingressava no curso de eletricista de distribuição disponibilizado através do acordo CEMIG-SENAI. Passava das cinco horas e eu observava os outros alunos recolherem as escadas e suas ferramentas ao almoxarifado. Enquanto os observava, um torvelinho de pensamentos atormentava minha mente. Acabara de completar dezoito anos, era a primeira vez longe da minha família. Primeiro uma incerteza abateu-me: o que fazia ali? Pensava comigo; logo eu! que não sabia consertar um interruptor elétrico, nem trocar a resistência de um chuveiro – como fazia meu pai, afeito aos trabalhos manuais. E agora! Distante dos carinhos de minha mãe, dos mimos de minha namorada, das brincadeiras e dos encontros com os amigos da juventude. O mundo abria-se para mim, alargavam-se os limites, agora parecia bem maior. Os horizontes que avistava já não eram mais os da minha pequena cidade no interior de Minas Gerais, respirava novos ares, pisava em terras desconhecidas, vislumbrava novas possibilidades. Todos esses pensamentos enchiam-me de angústia.
Para alguns dos meus colegas tudo não passava de diversão; obviamente que, davam tudo o que podiam durante o curso. Alguns já conheciam terminologias e equipamentos que eu jamais vira. No entanto, após o expediente, meus amigos arrumavam-se faceiros e caiam na noite. Alguns até começavam namoros, com as moças de Sete Lagoas, que juravam ser “coisa séria”, prometiam-lhes mundos e fundos, embora, tudo terminasse quando iam para as cidades onde éramos designados.
Eu me preparando para trocar a lâmpada do poste ao lado
Sempre fui um rapaz quieto, circunspecto; com dezoito anos apenas, já sentia o peso da responsabilidade e antevia as longas e duras jornadas que atravessariam noites de tempestade no correr dos anos. Aterrorizava-me a presença da incerteza que ameaçavam meus ideais. Tinha como meta, antes de passar no concurso da CEMIG, de ser um grande economista; talvez, até mesmo, resolver o grave e profundo problema da inflação que assolava o país naquela época, mas, para onde eu estava indo? Certamente, a escola técnica de eletricidade não seria o caminho para alcançar meus objetivos e isto foi causa de meu sofrimento por algum tempo; quando fui designado para a cidade onde trabalharia e anos seguintes.
Aos poucos, no entanto, toda a inquietação dissipava-se resgatando um inelutável desejo de aventura; uma alegria jovial tomava conta de mim. Afinal, estava empregado em uma das maiores empresas do país e o meu futuro não estava escrito, ainda, logo, eu poderia escrevê-lo como desejasse e uma grande empresa como a CEMIG, certamente precisaria de um economista ou, pelo menos, algo parecido. Muitos caminhos permeariam minha passagem nesta empresa e o meu sonho poderia muito bem se realizar.
Meus 21 anos de idade - 1990
Naquele momento decidi: - quero ser um grande profissional! Exclamei.
Um economista, talvez um engenheiro. A matemática maravilhava-me com seus axiomas, proposições e corolários. Suas fórmulas perfeitas, um mundo plenamente exato, diferente da minha vida profissional ou sentimental que desenrolaria no correr dos anos. Era isto que eu precisava para abastecer meu espírito e suportar os fins de semana e os dias de trabalho longe da família, longe dos velhos amigos e da namorada. Foi assim que os conflitos foram dissipando. E deixando cair o véu das incertezas. Desejei a partir daquele momento, ser um excelente profissional e almejava, logo que concluísse o ensino médio, ascender-me à carreira de auxiliar de engenharia, que existia na época e era cobiçada por todos eletricistas. Então, estaria pronto para seguir adiante.
Assim, pensativo, permaneci ali, estático, por algum tempo enquanto as negras nuvens da incerteza dissipavam cedendo lugar a uma calmaria, um misto de sentimentos repleto de esperança.
20 anos de carreira - 2007
Absorto em meus pensamentos fui interrompido pelo som agudo da sirene marcando o fim do expediente, que ecoou por toda a escola. Em segundos, todas as calçadas fervilhavam de rapazes a caminhar freneticamente aos alojamentos, aos banheiros e ao refeitório. Em um só instante tudo ficou repleto de movimento. O Português que tomava conta do refeitório dava ordens aos garçons, ao mesmo tempo em que corria por entre as mesas depositando nelas travessas cheias de arroz, panelas com saladas e carne.
Este foi o meu primeiro dia de trabalho na CEMIG, há vinte cinco anos. Os meus companheiros de turma, animados, andavam apressadamente para os alojamentos e voltavam lavados do suor do dia.
Este primeiro dia foi marcante em minha vida, embora, eu já trabalhasse como empregado em outras empresas há pelo menos cinco anos, todas elas não tinham mais do que vinte empregados. Na CEMIG, só os rapazes admitidos na minha época chegava ao número de quinhentos. Uma mudança radical para um rapaz inexperiente e tímido do interior.
O que aconteceu nos últimos vinte e cinco anos? Muita coisa; muitos sonhos se realizaram outros não, outros, ainda, mudaram de rumo, junto com a empresa. E agora estou aqui relembrando os sentimentos e as incertezas do meu primeiro dia de trabalho. Todavia, uma certeza perdura, estou empregado em uma das maiores empresas de energia do país. Mesmo que não tenha conseguido o bacharelado em economia, apaixonei-me pelas letras; frequentei a faculdade de história e fiz minha pós-graduação em Ética e Filosofia. Além disso; casei-me, tive dois filhos, tenho minha casa, meu carro, fiz algumas viagens inesquecíveis e ainda tenho alguns sonhos a realizar.
Com 25 anos de carreira - 2012
Tudo o que consegui amealhar até hoje, veio da CEMIG. Com meu trabalho digno, minha dedicação, às vezes, exasperada, mas, tive sempre como parceira as Centrais Elétricas de Minas Gerais, depois Companhia Energética de Minas Gerais e mais recentemente CEMIG Distribuição. 
Aos companheiros que me antecederam nesta jornada e a todos que caminham hoje comigo e juntos fazemos esta empresa girar; produzindo energia para alimentar a voraz boca do progresso. Dedico as minhas recordações e incertezas do meu primeiro dia na CEMIG.

2 comentários:

  1. Bom dia!Agradeço á sua visita e por seguir meu blog.
    Aproveitei dei uma lida no seu depoimento sobre sua vida,adorei lindo parabéns pelo esforço,que na verdade valeu apena.
    Um grande abraço.

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  2. Seu depoimento espelha com clareza o que eu também senti,lógico que alguns ingredientes diferentes, pois também fiz parte destes momentos. Um forte abraço! Inésio (Turma de senai D1F/87)

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Agradeço pelo seu comentário.