Tudo começou em uma
tarde de junho; a natureza revestia-se de tons cinza em um prelúdio ao sisudo
inverno. Lembro-me bem daquele oito de junho de 1987; a tarde agonizava, quando
sentei-me na relva do campo de treinamento da escola de formação profissional
da CEMIG, em Sete Lagoas. Há pouco admitido, ingressava no curso de eletricista
de distribuição disponibilizado através do acordo CEMIG-SENAI. Passava das
cinco horas e eu observava os outros alunos recolherem as escadas e suas
ferramentas ao almoxarifado. Enquanto os observava, um torvelinho de
pensamentos atormentava minha mente. Acabara de completar dezoito anos, era a
primeira vez longe da minha família. Primeiro uma incerteza abateu-me: o que
fazia ali? Pensava comigo; logo eu! que não sabia consertar um interruptor
elétrico, nem trocar a resistência de um chuveiro – como fazia meu pai, afeito
aos trabalhos manuais. E agora! Distante dos carinhos de minha mãe, dos mimos
de minha namorada, das brincadeiras e dos encontros com os amigos da juventude.
O mundo abria-se para mim, alargavam-se os limites, agora parecia bem maior. Os
horizontes que avistava já não eram mais os da minha pequena cidade no interior
de Minas Gerais, respirava novos ares, pisava em terras desconhecidas,
vislumbrava novas possibilidades. Todos esses pensamentos enchiam-me de
angústia.
Para alguns dos meus
colegas tudo não passava de diversão; obviamente que, davam tudo o que podiam
durante o curso. Alguns já conheciam terminologias e equipamentos que eu jamais
vira. No entanto, após o expediente, meus amigos arrumavam-se faceiros e caiam
na noite. Alguns até começavam namoros, com as moças de Sete Lagoas, que
juravam ser “coisa séria”, prometiam-lhes mundos e fundos, embora, tudo
terminasse quando iam para as cidades onde éramos designados.
Eu me preparando para trocar a lâmpada do poste ao lado |
Aos poucos, no entanto,
toda a inquietação dissipava-se resgatando um inelutável desejo de aventura;
uma alegria jovial tomava conta de mim. Afinal, estava empregado em uma das
maiores empresas do país e o meu futuro não estava escrito, ainda, logo, eu
poderia escrevê-lo como desejasse e uma grande empresa como a CEMIG, certamente
precisaria de um economista ou, pelo menos, algo parecido. Muitos caminhos permeariam
minha passagem nesta empresa e o meu sonho poderia muito bem se realizar.
Um economista, talvez
um engenheiro. A matemática maravilhava-me com seus axiomas, proposições e
corolários. Suas fórmulas perfeitas, um mundo plenamente exato, diferente da
minha vida profissional ou sentimental que desenrolaria no correr dos anos. Era
isto que eu precisava para abastecer meu espírito e suportar os fins de semana
e os dias de trabalho longe da família, longe dos velhos amigos e da namorada.
Foi assim que os conflitos foram dissipando. E deixando cair o véu das
incertezas. Desejei a partir daquele momento, ser um excelente profissional e
almejava, logo que concluísse o ensino médio, ascender-me à carreira de
auxiliar de engenharia, que existia na época e era cobiçada por todos
eletricistas. Então, estaria pronto para seguir adiante.
Assim, pensativo,
permaneci ali, estático, por algum tempo enquanto as negras nuvens da incerteza
dissipavam cedendo lugar a uma calmaria, um misto de sentimentos repleto de
esperança.
20 anos de carreira - 2007 |
Este foi o meu primeiro
dia de trabalho na CEMIG, há vinte cinco anos. Os meus companheiros de turma,
animados, andavam apressadamente para os alojamentos e voltavam lavados do suor
do dia.
Este primeiro dia foi
marcante em minha vida, embora, eu já trabalhasse como empregado em outras
empresas há pelo menos cinco anos, todas elas não tinham mais do que vinte empregados.
Na CEMIG, só os rapazes admitidos na minha época chegava ao número de
quinhentos. Uma mudança radical para um rapaz inexperiente e tímido do
interior.
O que aconteceu nos
últimos vinte e cinco anos? Muita coisa; muitos sonhos se realizaram outros não,
outros, ainda, mudaram de rumo, junto com a empresa. E agora estou aqui
relembrando os sentimentos e as incertezas do meu primeiro dia de trabalho.
Todavia, uma certeza perdura, estou empregado em uma das maiores empresas de
energia do país. Mesmo que não tenha conseguido o bacharelado em economia,
apaixonei-me pelas letras; frequentei a faculdade de história
e fiz minha pós-graduação em Ética e Filosofia. Além disso; casei-me, tive dois
filhos, tenho minha casa, meu carro, fiz algumas viagens inesquecíveis e ainda
tenho alguns sonhos a realizar.
Com 25 anos de carreira - 2012 |
Aos companheiros que me antecederam nesta
jornada e a todos que caminham hoje comigo e juntos fazemos esta empresa girar;
produzindo energia para alimentar a voraz boca do progresso. Dedico as minhas
recordações e incertezas do meu primeiro dia na CEMIG.
Bom dia!Agradeço á sua visita e por seguir meu blog.
ResponderExcluirAproveitei dei uma lida no seu depoimento sobre sua vida,adorei lindo parabéns pelo esforço,que na verdade valeu apena.
Um grande abraço.
Seu depoimento espelha com clareza o que eu também senti,lógico que alguns ingredientes diferentes, pois também fiz parte destes momentos. Um forte abraço! Inésio (Turma de senai D1F/87)
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