sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Pulga (ou Pulguinha?)


A Pulga (ou Pulguinha?)
Joandre O. Melo
Cadeira nº20
Era uma pulga matreira.
Não tinha eira nem beira
Em pouco tempo formou sua trupe.
Saltava de algibeira em algibeira; este era seu truque.

Hospedava-se em qualquer pulguedo.
Se não encontrava nenhum, fazia o seu próprio. Pouco tempo ficava; depois, partia.
Vinha com o Paulista, o baiano, o carioca ou com o mineiro.
No farnel do tropeiro desavisado que banho só tomava quando podia.

Era uma pulga matreira.
Que saltava de cliente em cliente,
Não tinha eira nem beira,
Mas, da sua trupe, era pulga mais experiente.

Quando encontrava um otário,
Era este mesmo que escolhia,
Aplicava-lhe, então, o conto do vigário e,
Dali para frente só o mordia.

Oh, como sofriam! Os tropeiros desavisados.
Aqueles forasteiros e estrangeiros que,
Nas paragens eram-lhe apresentados.

Se soubesse falar, a língua dos homens, diria: -- Bom dia, boa tarde ou boa noite, desculpe, mas posso lhe dar uma mordida?
Mas como não dominava nosso idioma, partia para o estratagema pelo qual era conhecida.

Era uma pulga vivida.
De paragem em paragem, deixava seu legado,
Descia e ficava escondida.
No lençol ou no colchão de palhas,
Que desde que fora costurado, nunca seria lavado.

A pulga frequentava lençóis de algodão alvos como as nuvens,
Terminavam tão pardos como o pó do chão.
Poeira não faltava! E a pulga que nascera alérgica, só reclamava da alergia e de sua solidão.
Lamentava, o seu destino, com outras amigas mais jovens.

Se encontrava um catre já pardo,
não dava outra, com o primeiro que ali dormia ela partia.
Seguia sem pesar e para trás não lançava um olhar; Nada a prendia.
Mesmo um catre a pouco encontrado e, ainda não explorado.

Porém, de tanto viajar, picar, mordiscar e se lambuzar em catres alheios,
Cansou. Um dia, então, quando chegou a um daqueles pulguedos,
Algo inesperado aconteceu...
Lá estava, outro ser como ela. Mas este era diferente.
Vivido e corajoso e também musculoso; era um pulgo.
Estava também cansado de sugar, mordiscar e atormentar os tropeiros.
Vivia num capacho.
Era confortável e grande. E a pulga macho!... Como era belo!
Só tinha um problema: o capacho ficara esquecido em um canto da estalagem; bem escondido, todo empoeirado e zurrado. Nunca fora lavado nem ao menos batido.

Ninguém o procurara desde a última década.
Mas, o que importava? Aquele pulgo lindão lá morava!
Para a nossa pulguinha parecia uma enseada,
Cheia de belezas e ainda inexplorada.

Então a nossa pulguinha que era matreira e sem eira nem beira, suspirou apaixonada.
Deixou para trás o seu passado de aventuras.
E ficou naquela parada.
Naquele capacho abandonado passou sua lua de mel. Fez mil e uma diabruras.

Passados alguns dias, a nossa pulguinha faiscante,
Sentiu uma dor lancinante, como nunca sentira antes.
Então, logo descobriu que outras pulguinhas viriam de dentro do seu ínfimo ventre de pulga.

Preparou-lhes um cantinho com fios de cabelo e fiozinhos de algodão que recolhia aqui e ali.
Nem se preocupou com sua alergia.
Meteu-se dentro daquela confusão e de lá só saiu quando todas as pulguinhas alegres e saltitantes foram correndo para o papai pulgo.

2 comentários:

  1. Que pulguinha danada, heim, Joandre!
    Legal!
    (Sempre passando por aqui).
    Abraço!

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  2. Carmélia, muito obrigado pelo comentário e por ler meus textos do blog.

    abraço,

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Agradeço pelo seu comentário.