Estribilho
(Joandre Oliveira Melo)
As noites se repetem como estribilhos em uma canção,
Canção doce e bela que deixa a alma em êxtase.
E a chuva fininha peneirada na escuridão,
Deixando-se ver sob o tênue clarão
Da chama de lampião.
Uma canção não termina sem antes repetir o
estribilho,
Assim é a vida do trovador que não finda antes da
noite.
Durante o dia, o bardo é um vagabundo, um pobre
mendigo da luz.
À noite não! O vagabundo transforma-se em querubim a
caminhar pelas quilhas
Aplainando a escuridão com seu brilho celestial.
Tua luz própria, condensada em som, na voz da legião.
E as noites se repetem como estribilhos em uma
canção,
Canção doce e bela que deixa a alma em êxtase.
A noite sopra seu hálito, refrigério do trovador,
Que o sorve abundantemente,
Encaminhando-o às entranhas de tua humanidade, em
torpor,
Misturando-o promiscuamente ao hálito visceral,
De teu corpo decadente, exausto de dor.
Exala trovador errante o hálito da noite misturado ao
tísico hálito dos teus pulmões.
Exala-o ante as mais doces e belas canções.
Aguarda, trovador sem esperança, a cada canção tua, a
cada estribilho teu,
O
amadurecer da noite, Que trará, ao seu termo, a tua consumpção.
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