Caro Tio Antônio,
A prosopopeia é um bom recurso para os poetas; sejam eles
moralistas, ou porque querem emprestar uma vontade de potência a
algo para empolar o seu discurso.
Um subterfúgio interessante, porém, não só restrito aos rebusques
das letras; veja que, às vezes, as coisas ou os bens produzidos
superam seu valor de uso exponencialmente, por um valor subjetivo.
É o tal de valor intangível que já começa a ser contabilizado.
Marx dizia: "A consciência não pode ser maior do que o ser
consciente.", mas parece que o mundo do irreal, do inconsciente
tem superado o homem -- ser consciente e, pretenso autor de sua história. O inconsciente trataremos aqui como o
impalpável, não o inconsciente de Freud ou dos seus epígonos. Mas,
bem poderíamos invocar Freud em algum momento, no complexo de
Narciso. Sim! "a logo" (Logomarca) no capitalismo moderno superou
os ativos e a força produtiva; o trabalho que é a única potência
geradora de riquezas foi banalizado junto com o homem que é o seu progenitor.
Agora vale o prazer, o etéreo, o onírico. Se a marca pode me dar o
maior prazer possível, seu valor transcenderá aquilo que realmente
é, e, o é realmente, dentro de uma realidade concebida
imaterialmente e, circunscrita à psique do Homo Oeconomicus a força de trabalho objetivada no
produto que estou "degustando" não vale nada. Assim, a logo "Coca-Cola"
transcende o trabalho objetivado do ser humano que a produz. ah!
nada melhor do que uma Coca-Cola "estupidamente" gelada para
saciar a "estúpida" vontade criada pelo desejo de se consumir.
A força ou "pulsão de vida" que eleva o instinto em detrimento do
ser pensante, ou seja, o afloramento das vontades do animal homem
para manter-lhe a existência biológica, declina ao quase
ostracismo. O que vale é saciarmos aquilo que não nos é necessário
para a manutenção da nossa vida biológica. O que vale é saciar a
insaciável vontade solipso.
Previsível, quando pensamos que as forças produtivas avançaram
extraordinariamente desde o momento que o homem cultivou sua
primeira semente. Porém, o homem continua homem, mas o seu desejo
foi totalmente (re)construído ideologicamente pelo perverso
mercado. O mercado "esqueceu-se" (aqui vai uma prosopopeia:
esquecer) que o único a remunerar o capital é ainda, e,
acredito que sempre será o trabalho do pobre animal homem...
O assunto não termina aqui, é claro.... Marx ainda nos diz muito,
o solipsismo também promete-nos uma realidade psíquica. Freud? ah,
Freud! Ele também conseguiu ver, embora temesse o que fosse
encontrar, que o homem é tão simples.... e o incompreensível é
compreender que o homem precisa de tão pouco para viver!...
Atenciosamente,
Joandre Oliveira Melo
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