quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A bolsa e a Vida (Drumond)


O CÉU DA BOCA

I - A Mesa

Uma das sedes da nostalfia da infância, e das mais profundas, é o céu da boca.

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A mesa funcionaria como personagem ativa, pessoa da cas, dotada do poder de reunir toas as outras, e também de separá-las, pelo jogo de preferências e idiossincrasias do paladar -- que digo? da alma, pois é no fundo da alma que devemos pesquisar o mistério de nossas inclinações culinárias.

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II - O Ovo

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Quantas pessoas não transformam a imposição em ato voluntário, e quantas submissões ignoradas de nós mesmos não amortecem nossa liberdade?

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DEBAIXO DA PONTE

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A carne e a sensação de raridade da carne. E iriam aproveitar o resto do dia dormindo (pois não há coisa melhor, depois de um prazer, do que o prazer complementar do esquecimento), quando começaram a sentir dores.

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MENSAGEM

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E todo ano é assim; e assim será enquanto esta anímula sem tempo de ser alma transitar pelas ruas da vida. O tempo é nossa desculpa, nossa ferida, nosso modo de não existir, pensando que estamos vivendo. Os mortos que não me tiveram a seu lado se aprofundaram na experiência vital da morte, esses venceram o tempo, estão completos.
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Omissões e rabugices de cavalherio in his fifties, desculpem; mas gostaria que a vida nos desse tempo de vivê-la. As deficiências pessoais juntam-se os excessivos (em número e grau) acontecimentos. Há acontecimentos demais para um só coração, um só espírito, um só estômago, apenas dois braços e duas pernas. Não estou me desculpando; registro.

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VILA

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O coração, não a memória, que é cega e se deixa enganar; o outro vai certo.

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Referências:
ANDRADE, Carlos Drumond de. A bolsa e a vida. ed. 15ª, Rio de Janeiro: Record, 2002.
(*)Imagem disponível em: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/files/2011/03/carlos3.jpg, 06.12.2012 14:44h

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